Título: Oposição avança com vitória do DEM em Salvador
Autor: Pereira, Paulo Celso
Fonte: O Globo, 29/10/2012, País, p. 14
Prefeito eleito dedica resultado das urnas ao avô, já falecido.
O deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (DEM) foi eleito ontem prefeito da cidade de Salvador, a maior capital do Nordeste e terceira mais populosa do país, com 53,51% dos votos contra 46,49% de seu adversário, o petista Nelson Pelegrino. A vitória de ACM Neto coroa o avanço da oposição nas regiões Norte e Nordeste - o PSDB elegeu os prefeitos de quatro capitais nas duas regiões - e dá uma sobrevida ao DEM, que sofreu intensamente na campanha com o avanço do PSD de Gilberto Kassab.
Apesar da popularidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidente Dilma Rousseff em Salvador, Neto conseguiu derrotar ambos. Lula foi duas vezes à capital baiana, e a presidente, uma, sempre com discursos agressivos contra Neto. Agora, o PT será obrigado a se reorganizar para tentar impedir que a oposição retome o governo estadual em 2014. O DEM comandará a partir de 1º de janeiro não só Salvador, mas o segundo maior colégio eleitoral do estado, Feira de Santana.
Às 19h, antes do resultado final, o governador petista Jaques Wagner deu entrevista coletiva parabenizando o candidato vitorioso e antecipando que não terá problemas em firmar parcerias, apesar de toda a campanha de Nelson Pelegrino ter sido focada na incapacidade de Neto conseguir recursos estaduais e federais.
- Minha relação será de respeito ao eleitor e procurando fazer o melhor pela cidade. O prefeito eleito contará comigo. A relação é de adversário político, mas de aliados no campo da gestão. Todo projeto bom para Salvador será acolhido tanto pela administração estadual quanto pela federal - afirmou o governador.
A campanha vitoriosa de Neto começou a ser construída a partir das greves da Polícia Militar e dos professores estaduais no início deste ano. Com as greves e a imediata derrocada nos índices de popularidade do governador, o deputado viu seu nome crescer nas pesquisas. Em negociações que passaram até pela contrapartida de apoio do DEM a José Serra em São Paulo, ACM Neto assegurou o apoio do PSDB ainda no primeiro turno - sem o qual reconheceu que não teria condições de ser candidato.
Diante da péssima avaliação do prefeito João Henrique e da má avaliação de Jaques Wagner, Neto optou por construir a imagem de um político jovem, talentoso, influente, disciplinado e com capacidade de liderança. Boa parte da população passou a acreditar que, por ainda ter uma longa carreira pela frente, ele seria obrigado a fazer uma boa gestão na prefeitura.
O grande desafio foi tirar o maior proveito possível da potente, porém pesada, associação com o carlismo. Os termos "ordem" e "organização" foram usados constantemente em sua campanha, mas com o cuidado de se exibir como um jovem e jamais ser identificado publicamente como uma ressurreição do carlismo.
Se ao fim do primeiro turno, ACM Neto teve apenas 0,5% de votos a mais do que Pelegrino, no segundo turno a vantagem aumentou. Apesar de ter ficado sem o apoio dos quatro candidatos que haviam disputado o primeiro turno contra ele, Neto garantiu o apoio do PMDB dos irmãos Geddel e Lúcio Vieira Lima.
Apesar da herança familiar, tanto aliados quanto adversários evitam qualificar ACM Neto como um renascimento do velho carlismo. Isso porque hoje boa parte dos antigos aliados de seu avô é aliada de Jaques Wagner. E também porque Neto vem tentando promover uma renovação de seu grupo local, trabalhando com alguns amigos jovens, apelidados de "Netoboys".
- É um homem novo para um novo tempo - resume o coordenador de sua campanha , José Carlos Aleluia.