Título: PSOL elege em Macapá seu 1º prefeito de capital
Autor: Sassine, Vinicius
Fonte: O Globo, 29/10/2012, País, p. 17
Crise marcou campanha porque partido recebeu apoio de integrantes de DEM e PSDB.
Com uma diferença de apenas 2.369 votos, o PSOL conseguiu pela primeira vez eleger um prefeito de capital. O vereador Clécio Luis foi eleito prefeito de Macapá com 50,59% dos votos válidos. Ele derrotou o atual prefeito, Roberto Góes (PDT), que obteve 49,41% dos votos. A eleição de Clécio ocorreu com apoio de integrantes do DEM e do PSDB no segundo turno, partidos mais combatidos pelo PSOL.
- O PSOL está passando pelo seu principal momento. Não só marca posição nas eleições, mas disputa poder político. O partido não sai dividido da disputa - disse o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), patrocinador da candidatura de Clécio.
Segundo o parlamentar, as dissidências de militantes do partido diante dos apoios recebidos na disputa "não foram responsáveis, no mais duro embate contra a direita". Randolfe diz que a gestão em Macapá será marcada pela austeridade e "reconstrução da coisa pública".
Clécio obteve 101.261 votos, ante 98.892 votos de Góes. Foi uma das disputas mais acirradas do segundo turno, com indefinição sobre o resultado nas pesquisas de intenção de voto antes e ao longo de toda a apuração.
- O PSOL nasceu como um partido de esquerda, democrático e de massa. Não somos um partido de esquerda vanguardista - afirmou Randolfe, sobre as críticas abertas dos correligionários aos apoios recebidos pela sigla.
O primeiro militante do PSOL a ser eleito prefeito de uma capital está no segundo mandato de vereador. Clécio é primeiro suplente do senador Randolfe, seu principal cabo eleitoral. A militância política dos dois se confunde: atuaram juntos, por exemplo, nos protestos pelo impeachment de Fernando Collor, em 1992. Em 2005, romperam com o PT e se filiaram ao PSOL, pouco depois da fundação do partido.
prefeito derrotado foi preso pela PF em 2010
Clécio tem 40 anos, é geógrafo e professor do ensino médio na rede pública. Além da disputa para os cargos de vereador e prefeito de Macapá, o socialista já disputou o cargo de governador do Amapá em 2006. Três anos antes, exerceu o cargo de secretário estadual de Educação.
A campanha do PSOL pela Prefeitura de Macapá reprisou os escândalos políticos protagonizados pelo atual prefeito, derrotado por Clécio. Roberto Góes foi preso pela Polícia Federal em dezembro de 2010 na execução da Operação Mãos Limpas. As suspeitas eram de fraudes em licitações da prefeitura. O prefeito foi solto dois meses depois. O inquérito tramita no Tribunal Regional Federal da 1ª Região.
A campanha de Clécio insistiu também no acordo que o prefeito se viu obrigado a fazer com a Justiça. Como Góes foi preso em flagrante por posse irregular de arma de fogo - uma espingarda calibre 12 e 16 cartuchos - ficou acertada a suspensão condicional do processo, desde que ele cumprisse algumas determinações. O prefeito não pode deixar o estado sem comunicar à Justiça. Em Macapá, pode participar de atos de governo, mas está proibido de frequentar boates e "locais perniciosos". Nem o apoio de Lula - que apareceu na propaganda eleitoral pedindo votos ao prefeito - impediu a vitória do PSOL.