Título: Sandy embola campanha
Autor: Godoy, Fernanda
Fonte: O Globo, 29/10/2012, Mundo, p. 36

Furacão muda agenda dos candidatos e coloca em risco votação antecipada e pesquisas.

O furacão Sandy, que deve atingir ampla faixa do Nordeste dos EUA a partir de hoje, tornou ainda mais imprevisível uma eleição presidencial que chega aos últimos oito dias de campanha com os candidatos em empate técnico. O presidente Barack Obama e seu rival, Mitt Romney, cancelaram comícios em Virgínia no fim de semana e tiveram que refazer, em cima da hora, as agendas de viagem para outros estados decisivos que estão na rota do Sandy, como Carolina do Norte, New Hampshire e até Ohio, que pode ser castigado por tempestades de neve. Obama cancelou atos de campanha também hoje à noite e amanhã de manhã, e ficará em Washington acompanhando os momentos em que o furacão atingir o solo americano. Romney desistiu de ir à Virgínia e à Flórida, concentrando-se em Ohio ontem e hoje.

O presidente se reuniu com a cúpula da Fema, agência do governo responsável pela prevenção de catástrofes. Obama, que chamou o Sandy de uma "tempestade grande e séria", disse que o objetivo do governo é eliminar a burocracia, garantindo a rapidez na resposta. Depois participou de uma conferência telefônica com os governadores dos estados na rota do furacão.

- Estaremos presentes para atender a qualquer pedido. Queremos assegurar que estamos nos antecipando, garantindo que teremos a melhor resposta possível a uma situação complicada - disse o presidente.

Obama terá que buscar o equilíbrio entre a necessidade de prosseguir a campanha e a de desempenhar bem seu papel de presidente, tendo na memória o fracasso do seu antecessor George W. Bush na assistência às vítimas do furacão Katrina, que atingiu a região de Nova Orleans em agosto de 2005, causando enormes inundações e a morte de mais de 1.800 pessoas.

- Acho que o povo americano vai olhar para ele (Obama), e tenho certeza de que ele vai se conduzir bem e exercer sua liderança. Imagino que isso possa ajudá-lo um pouco. Mas não estou seguro de que isso afete a votação - disse o senador republicano John McCain, derrotado por Obama em 2008, num cenário de crise no mercado financeiro que também provocou turbulência inesperada na reta final da campanha.

AMEAÇA DE RECONTAGEM EM VÁRIOS ESTADOS

O estrategista democrata Robert Shrum, que comandou a campanha derrotada de Al Gore à Presidência em 2000, previu que problemas causados pelo furacão podem gerar pedidos de recontagem em vários estados, lembrando a situação daquele ano na Flórida, onde George W. Bush acabou vencendo:

- E há outro fator, se a tempestade for grave o suficiente, o presidente terá que deixar a disputa eleitoral para governar o país. Isso deixará Mitt Romney numa posição estranha também, porque ele não pode dar a impressão de que está simplesmente seguindo com a campanha.

A média nacional das pesquisas apontava vantagem de 0,9 ponto percentual para Romney (47,7% a 46,8%), segundo o site Real Clear Politics. Mas Obama estava à frente na maioria dos nove estados ainda indefinidos onde a eleição está sendo disputada nesses últimos dias. Segundo o site, Obama liderava em Ohio, Wisconsin, Nevada, New Hampshire e Iowa. Romney tem vantagem na Flórida e na Carolina do Norte. A disputa está empatada na Virgínia e no Colorado. Diversas estimativas favorecem o presidente no Colégio Eleitoral, onde são necessários 270 votos para vencer.

A votação antecipada, que tem favorecido o democrata, já começou em muitos dos estados que podem estar entre os afetados, como Virgínia e Ohio. Mas tanto a votação quanto as pesquisas poderão ser afetadas em caso de catástrofe. A porta-voz do comitê de organização das eleições da Virgínia disse que já há entendimentos com a Defesa Civil, o Departamento de Transportes e a polícia estadual para garantir a segurança. Em casos extremos, isso pode levar ao fechamento de seções eleitorais.

Frank Newport, executivo do Instituto Gallup, disse que cortes de energia, linhas telefônicas e acesso à internet podem forçar à interrupção das pesquisas diárias do instituto. Assessores dos dois candidatos avaliam que o furacão pode ter o efeito indesejado de "congelar" a campanha, a começar pelo desvio da atenção da mídia. Outro prejuízo viria da não veiculação ou queda de audiência dos anúncios que os dois lados pretendem exibir na TV e no rádio até a eleição, na terça-feira da semana que vem.