Título: Dura missão para a comitiva da OEA
Autor: Vaz, Viviane
Fonte: Correio Braziliense, 07/10/2009, Mundo, p. 17

Nem o presidente interino nem o deposto dão sinais de receptividade à negociação

Uma missão de chanceleres da OEA chega hoje à capital de Honduras, Tegucigalpa, e terá de fazer malabarismos para conseguir enfrentar a resistência tanto do presidente deposto, Manuel Zelaya, quanto do presidente interino, Roberto Micheletti. Ontem, os dois mandatários deram mostras da dificuldade para ceder posições. Eles enviaram recados pela imprensa aos integrantes da missão ¿ os ministros das Relações Exteriores da Costa Rica, Equador, El Salvador, México e Panamá, os vice-chanceleres do Canadá, Jamaica e Guatemala e o embaixador brasileiro na OEA, Ruy Casaes.

Zelaya pediu aos representantes para não caírem ¿na conversa¿ do presidente interino. ¿Advertimos aos chanceleres que nas próximas horas chegarão ao nosso país que estejam alertas para não cair nestas manobras, colocando em questão a alta dignidade dos povos que representam¿, destacou. Para Zelaya, a suspensão do estado de sítio foi um desses expedientes, pois considera que ele só foi levantado depois de ter permitido ao governo interino ¿assaltar, destruir, desmantelar os equipamentos e sequestrar os meios que eram a voz do povo (Radio Globo e Canal 36)¿. O presidente deposto também definiu seus oito representantes no diálogo, entre eles os ministros de Interior, Víctor Meza; a vice-chanceler, Patricia Licona; e o ex-presidente da Comissão Nacional de Bancos e Seguros Milton Jiménez.

Micheletti, por sua vez, anunciou que receberá os chanceleres apenas como ¿testemunhas de honra¿. Afirmou esperar que eles ¿não venham com posições¿ para fazer propostas que não serão aceitas. ¿Como não aceitamos anteriormente¿, arrematou. O presidente interino fez um apelo para que não só a OEA, mas representantes de todo o mundo visitem Honduras para ¿dar-se conta que há paz e tranquilidade, enquanto não se incita a violência a partir da embaixada do Brasil¿. E completou: ¿Eu terminarei meu mandato em 27 de janeiro, caso não haja uma negociação que estabeleça que eu devo me retirar¿. Até o fim desta edição, o governo interino ainda não havia anunciado quem seriam seus representantes para dialogar com a OEA.

Hillary e Lula pressionam

O diálogo entre os representantes de Manuel Zelaya e de Roberto Micheletti com os membros da OEA não será nada fácil, mas o presidente deposto recebeu ontem dois apoios de peso ¿ que podem fazer a diferença na balança: o do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton. Em Estocolmo, Lula considerou que a presença no poder do governo interino liderado por Micheletti é ¿a única coisa errada¿ em Honduras. ¿Para nós, a solução seria simples se o golpista saísse e deixasse o presidente legítimo assumir¿, disse Lula, em entrevista coletiva realizada após a Cúpula Brasil-União Europeia.

O brasileiro reiterou que Zelaya ¿é hóspede na embaixada, não tem status de refugiado¿. E, invocando a proteção diplomática a opositores do golpe de Estado no Chile, em 1973, desafiou Micheletti a violar a representação brasileira em Tegucigalpa: ¿Nem o Pinochet teve coragem¿. ¿Enquanto tiver golpista, só podemos exigir que ele saia¿, insistiu o presidente. O assessor de Lula para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, disse a jornalistas, na saída da sede do governo sueco, que a situação em Tegucigalpa ¿parece ter melhorado¿. E emendou: ¿O Micheletti se deu conta das besteiras que fez¿.

Em entrevista ao canal CNN, Hillary disse que os Estados Unidos apoiam o plano apresentado pelo presidente da Costa Rica, Oscar Arias, que exige a restituição de Manuel Zelaya à presidência para possibilitar a realização das eleições marcadas para novembro. ¿Estamos trabalhando muito duro para alcançar um acordo em Honduras que permita levar adiante as eleições¿, declarou Hillary, acrescentando esperar que o plano permita ao país um retorno ao ¿caminho de uma democracia mais sustentável¿. ¿O povo de Honduras deseja isto. Lutaram com esforço para voltar à situação em que estavam antes da destituição e do exílio do presidente Zelaya¿, concluiu.

» Colaborou Silvio Queiroz