Título: Virgílio surpreende em Manaus
Autor: Krakovics, Fernanda
Fonte: O Globo, 28/10/2012, País, p. 23
Tucano está perto de votação histórica contra candidata que teve apoio de Lula e Dilma
Enviada especial
Suando a camisa. Arthur Virgílio em caminhada: candidatura não era aposta do PSDB, mas sua vitória pode se tornar a maior do partido
Em desvantagem. Vanessa Grazziotin em comício com Dilma: candidata do PCdoB derrotou Virgílio para o Senado, mas agora está atrás
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MANAUS Candidato do PSDB à prefeitura de Manaus, o ex-senador Arthur Virgílio tem perspectiva de ser eleito hoje com uma votação histórica: a maior desde 1992 para administrar a capital amazonense. Ele deve sair das urnas com cerca de 70% dos votos válidos. O cenário é ainda mais surpreendente tendo em vista que, nesta campanha, além de sua concorrente direta, a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB), para quem perdeu a vaga no Senado em 2010, ele enfrentou o ex-presidente Lula, a quem fez oposição ferrenha quando estava no Congresso, e a presidente Dilma Rousseff.
Virgílio está 32 pontos percentuais à frente de sua adversária, de acordo com pesquisa Ibope divulgada na última sexta-feira. O tucano tem 62% das intenções de voto e Vanessa, 30%. No primeiro turno, o Virgílio obteve mais do que o dobro dos votos da senadora: 40% a 19%.
Isso em uma cidade que votou maciçamente em Lula e Dilma nas eleições presidenciais. Em 2002 e 2006, Lula somou 77% e 87% dos votos, respectivamente, no segundo turno em Manaus. E Dilma foi eleita, no segundo turno, com 79% dos votos manauaras.
Já para a prefeitura da capital amazonense, a maior votação dos últimos dez anos foi obtida pelo atual prefeito, Amazonino Mendes (PDT), que ganhou com 57% em 2008 e em 1992. Apesar das duas votações históricas, a gestão de Amazonino está mal avaliada e ele sem força na disputa deste ano.
Lula: empenho para derrubar tucano
Assim como em 2010, Lula se empenhou pessoalmente para derrotar Virgílio na disputa pela prefeitura, participando de comício da candidata do PCdoB, no primeiro turno, quando o Ibope apontava empate técnico entre ela e o tucano.
O ex-presidente não perdoa o oposicionista por ter sido um dos articuladores da derrubada da CPMF e por ter ameaçado, na tribuna do Senado, em 2005, dar uma "surra" em Lula. No comício de Vanessa, Lula disse que tentaria derrotar o tucano mesmo que não conhecesse a adversária dele.
Já a presidente Dilma só foi à capital amazonense na última segunda-feira. Mesmo com a perspectiva de derrota, ela decidiu ir a Manaus em deferência ao PCdoB, aliado nacional. No primeiro turno Dilma só pediu votos na TV para a senadora. Mas recebeu o governador Omar Aziz (PSD), aliado da senadora, no Palácio do Planalto, e anunciou investimento de R$ 276 milhões para obras na capital amazonense.
Diante dos apoios de Lula, Dilma e do governador a Grazziotin, Virgílio chegou a dizer que sua campanha era a luta de "Davi contra Golias". O tucano não era uma aposta nem em seu próprio partido. Agora, diante da perspectiva de vitória e do cenário ruim nas pesquisas para o candidato do PSDB em São Paulo, José Serra, a provável eleição de Virgílio é comemorada pelo partido como sua maior conquista nesta eleição.
Confiante na possível vitória, Virgílio desacelerou a agenda de campanha na reta final, que consistia basicamente em caminhadas. Sua adversária, embora mantendo o discurso público de que acredita numa virada, praticamente jogou a toalha. Ela subiu o tom e fez duros ataques ao tucano nos últimos dias, na propaganda na TV e em discursos. Abatida, os olhos da senadora, já naturalmente amendoados, viraram dois traços, demonstrando cansaço.
PMDB elegeu menos prefeitos
Nas ruas da capital de Amazonas também há um sentimento de vitimização em relação a Virgílio. Como ele perdeu para Vanessa em 2010 a disputa para o Senado, é comum ouvir pessoas dizendo que agora a comunista deveria concluir seu mandato de senadora, que vai até 2019, em vez de tentar derrotar outra vez o tucano.
A eventual derrota da comunista também é um revés para o ex-governador Eduardo Braga, que inventou sua candidatura. Um indício do declínio de sua influência é que, nesta eleição, o PMDB elegeu menos prefeitos do que o PSD, partido do governador.
- Isso não importa. O que importa é que nossa base fez ao todo 57 prefeituras e o PSDB fez zero, e o PDT (também adversário) fez quatro - tenta minimizar o líder do governo no Senado.