Título: A alternância do poder em São Paulo
Autor: Uribe, Gustavo; Amorim, Silvia; Ribeiro, Marcelle
Fonte: O Globo, 28/10/2012, País, p. 10

Professor e pesquisador do IESP/UERJ

Petista e tucanos não se bicam, desde os anos 80 do século passado. Antes, Lula fez campanha para Fernando Henrique quando disputou vaga para o Senado em 1978 e foi só. De lá para cá, a cada eleição na cidade de São Paulo, um petista disputa com um tucano. Ao longo desses 30 anos se alternaram ora um vencendo, ora o outro perdendo. A grande mágoa vem da eleição para prefeito em 1985: Fernando Henrique, PMDB autêntico, perde por muito pouco para Jânio Quadros, enquanto Eduardo Suplicy, do PT, fica em terceiro com votos suficientes para ter dado a vitória a FH, caso o tivesse apoiado. Destoando dessa rixa, o governador Mário Covas sobe no palanque de Marta Suplicy, em 2000, para enfrentar Paulo Maluf no segundo turno.

O eleitorado paulistano também seguiu essa divisão. A primeira eleição de um petista foi em 1988 com Luiza Erundina. Dessa eleição até hoje São Paulo tem alternado um prefeito do PT a cada dois mandatos: Maluf-Pitta 1992-1996, Marta 2000, Serra-Kassab 2004-2008, sempre tendo um petista como segunda força, com Erundina e Marta Suplicy. Portanto, a eleição deste ano está na vez do retorno de um petista.

A disputa da vez é entre José Serra e Fernando Haddad. Serra nos últimos 12 anos tem ganhado e perdido eleições importantes. Na capital, ganhou a prefeitura (2004), para governador (2006), perdeu para Lula em 2002 (49% a 51%) e ganhou da Dilma por 54% a 46% em 2010. Neste período, a votação petista para a prefeitura variou de 38% a 59% (1996-2008) e para presidente variou de 46% a 51% (2002-2010). Nesta eleição, as pesquisas e o resultado do primeiro turno mostram que o paulistano está a ponto de confirmar sua história de alternâncias.

No primeiro turno, Serra alternou picos de liderança e termina empatado com Haddad e Russomanno. Na virada para o segundo turno, Haddad recomeça a campanha com larga vantagem sobre Serra. Hoje, esta vantagem está em cerca de 15 pontos percentuais, com 16% de eleitores declarando pretender votar branco, nulo ou ainda indecisos. Considerando-se, ainda, que o placar estimado com os votos válidos pelo Ibope é de 59% (Haddad) a 41% (Serra) e que, no primeiro turno, brancos e nulos somaram 13%, sobra pouco paulistano para Serra garimpar votos.

Mas esse embate tem alguns ingredientes novos que vão além de São Paulo capital. A mais que provável vitória de Haddad representa um extraordinário ganho político para Lula e o PT, enquanto que a derrota de Serra representa a sua aposentadoria e a consolidação de Aécio Neves na liderança dos tucanos, como virtual candidato de oposição em 2014.

Como chamamos a atenção em artigo recente neste espaço, a derrota dos tucanos paulistas provoca uma mudança marcante na redistribuição do eixo da política nacional: passaremos a ter a oposição liderada por Minas Gerais e São Paulo como o maior aliado do governo. Isso pavimenta a reeleição de Dilma e ainda coloca o julgamento do "mensalão" no STF definitivamente na história, que é o seu lugar natural.