Título: Com Haddad, PT deve voltar a comandar SP
Autor: Uribe, Gustavo; Amorim, Silvia; Ribeiro, Marcelle
Fonte: O Globo, 28/10/2012, País, p. 10

Em votos válidos, Ibope aponta petista 18 pontos à frente de Serra; no Datafolha, vantagem é de 16 pontos

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Corrida por votos. Serra faz último esforço de campanha em feira, ontem à tarde, na Zona Norte da cidade

Fuscão preto. O petista Haddad participa de carreata ao lado de Gabriel Chalita (PMDB), na Zona Sul

Fotos de Michel Filho

SÃO PAULO O PT deve derrotar hoje o PSDB, se confirmado o prognóstico apontado pelas pesquisas eleitorais, e retomar depois de oito anos o comando da maior cidade do país. O cenário eleitoral é inédito em São Paulo. Nunca um candidato que chegou em primeiro lugar ao segundo turno na capital paulista perdeu a disputa municipal. Desta vez, porém, o tucano José Serra, que venceu a primeira etapa com 30,7% dos votos, deverá ser derrotado pelo candidato lançado pelo ex-presidente Lula: o petista Fernando Haddad.

serra ainda aposta em virada

Pesquisa Datafolha/TV Globo divulgada ontem mostra Haddad com vantagem de 14 pontos percentuais sobre o adversário do PSDB. O petista teve 48% das intenções de voto, e o tucano, 34%. Se considerados os votos válidos, a distância é maior: 58% a 42% a favor de Haddad. Já a pesquisa Ibope apontou o candidato do PT com vantagem de 15 pontos sobre o adversário. O ex-ministro da Educação teve 50%, ante 35% de Serra. Considerando votos válidos, o placar é de 59% a 41%.

Ontem, o candidato do PSDB ainda mantinha o otimismo. O tucano ressaltou que o voto deve ser buscado "até o último instante" e reconheceu que todas as campanhas eleitorais são difíceis. No final do dia, disse que sentia um "clima de virada muito grande".

- Ainda há muita conversa de hoje para amanhã e ainda tem muita gente que vai tomar sua decisão. Voto a gente procura até o ultimo instante em qualquer lugar da cidade - afirmou o candidato.

Em carreata pela manhã, ao lado do deputado federal Gabriel Chalita, Fernando Haddad avaliou como "desagradáveis" os ataques que sofreu do adversário tucano durante a disputa municipal. O petista reclamou de boatos lançados nas redes sociais sobre o cancelamento do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e de blog criado por uma empresa ligada à campanha eleitoral do PSDB com falsas promessas do candidato do PT. A placa do carro que transportava o candidato, fosse coincidência ou não, era de "Serra Negra", cidade do interior de São Paulo.

- Eu achei desagradável essa coisa do blog, de terem identificado como ato da campanha do adversário. Fazer blog falso não combina com o PSDB e não combina com ninguém - criticou o petista.

A aposta do marqueteiro do PT, João Santana, é de que o petista vença a corrida municipal com uma vantagem de 12 pontos. O marqueteiro do PSDB, Luiz Gonzalez, por sua vez, acredita em uma vitória do tucano com uma margem menor: de apenas 2 pontos. A conquista da capital paulista representa, na avaliação de petistas e tucanos, vantagem na arrancada para as eleições de 2014.

SP impacta eleição de 2014

No flanco petista, a presidente Dilma Rousseff e seu antecessor Luiz Inácio Lula da Silva costuraram acordos e participaram de comícios. No lado tucano, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso participaram de agendas de rua e gravaram depoimentos para o horário eleitoral.

O cientista político Marco Antonio Carvalho, da FGV-SP, lembra que, por deter o terceiro maior orçamento do país, São Paulo dá à disputa o status de uma eleição da importância de uma sucessão estadual.

- Se do lado do PT uma derrota na capital paulista coloca em xeque a hegemonia do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva dentro do partido, do lado do PSDB leva a sigla a perder o controle de seu principal centro nervoso - avaliou.

A disputa municipal, que ganhou contornos de embate nacional, teve reflexos até mesmo nas estruturas administrativas do governo federal e da administração estadual. Em troca do apoio ao candidato do PT, a senadora Marta Suplicy foi nomeada para o comando do Ministério da Cultura e um aliado do deputado federal Paulo Maluf, do PP, foi indicado para a Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental do Ministério das Cidades. No governo estadual, o presidente estadual do PSB, Márcio França, deixou a Secretaria de Turismo após decisão do seu partido de apoiar o PT.

A corrida chega ao seu desfecho marcada por outro fato inédito: o percentual de eleitores que não devem escolher nenhum candidato pode ser recorde. No primeiro turno, os eleitores que se abstiveram, votaram em branco ou anularam somaram 31,26%, índice apenas inferior ao das eleições de 92, quando atingiu 34,83%. O diretor do Instituto Datafolha, Mauro Paulino, avalia que, pelo histórico da disputa municipal, apenas as abstenções podem chegar a 21%.

- Uma pesquisa eleitoral recente mostrou que 36% vão votar em um candidato por falta de opção melhor - explicou Mauro Paulino.