Título: Na periferia, a rotina da insegurança pública
Autor: Carvalho, Cleide
Fonte: O Globo, 01/11/2012, País, p. 3

Em reunião, líderes comunitários relatam violência na capital paulista

SÃO PAULO Escolas e comércios fechados. Suspensão de saraus e outras atividades culturais. Vários assassinatos entre a noite e a madrugada. É o retrato descrito por moradores da periferia de São Paulo desde o começo da última onda de violência na capital e Região Metropolitana, intensificada em outubro, numa reunião comunitária acompanhada pelo GLOBO anteontem à noite, no Sindicato dos Advogados, na região central da cidade. Há relatos de toques de recolher em Aricanduva, na Zona Leste; em Brasilândia, na Zona Norte; em Pirituba, na Zona Oeste; e na região do Campo Limpo, na Zona Sul. A Baixada Santista também seria foco de violência, relatam os representantes de movimentos sociais.

O terror não seria uma exclusividade da maior facção criminosa de São Paulo. Os líderes comunitários descrevem ações de grupos de extermínio e milícias comandadas por policiais militares em disputa por pontos de tráfico de drogas com a facção, cuja ação é organizada nos presídios paulistas.

- Eles estão formando e fortalecendo as milícias. Antes agiam, por exemplo, em desmanches, comércios e casas de prostituição nas periferias, além do controle de locais de venda de contrabando, na região central. Agora disputam pontos de tráfico com a facção. Temos as mortes de pelo menos dois integrantes da facção de 2010 para cá e o desaparecimento de droga e uma grande quantia em dinheiro deles. Depois disso, iniciou uma nova onda de violência - diz um morador da Zona Norte, que pediu para não ter o nome publicado. Ele afirma que as milícias atuam na proteção a restaurantes em bairros nobres.

disputa entre facção e milícia

A disputa por poder, apontam, seria um dos motivos para a onda de execuções de policiais, em muitos casos fora do horário de expediente.

- Moro no Campo Limpo e lá a coisa anda bem complicada. Recentemente tivemos a morte de um amigo meu. Foi num domingo e inventaram uma história de que era acerto de contas com o dono do bar, que não saiu nem ferido. Desde então há um toque de recolher no Campo Limpo, todos os dias. Há um carro, um Santana, circulando na região e matando - descreve outro líder comunitário.

As ocorrências foram relatadas pelo rapper Mano Brown, dos Racionais MC"s, durante um encontro na última semana com o prefeito eleito de São Paulo, Fernando Haddad (PT).

A coordenadora do Movimento Mães de Maio e mãe do gari Edson Rogério Silva dos Santos, morto a tiros em 15 de maio de 2006, em Santos, afirma que ainda há ajuste de contas não resolvidas da onda de violência que marcou a cidade naquele ano.

- Estudantes perdem o direito de ir e vir. Você coroa a impunidade e generaliza a violência - diz Débora Maria da Silva, cujo corpo do filho foi exumado em 13 de junho para aprofundar a investigação.

O movimento Mães de Maio, a Rede 2 de Outubro e outras organizações sociais preparam manifestações para este mês. Os atos começarão nesta sexta-feira, Dia de Finados.