Título: Ministro alertou secretário de Segurança sobre risco de crise
Autor: Carvalho, Jailton de; Farah, Tatiana
Fonte: O Globo, 01/11/2012, País, p. 4

Antônio Ferreira Pinto diz, porém, que visita foi apenas de cortesia

Violência em são paulo

BRASÍLIA e SÃO PAULO Numa reunião em junho, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, alertou o secretário de Segurança Pública de São Paulo, Antônio Ferreira Pinto, sobre o possível agravamento da violência no estado a partir de ações desencadeadas por uma das maiores organizações criminosas do país. Segundo uma autoridade federal que acompanha o caso de perto, o ministro viajou à capital paulista, e avisou o secretário, com base em relatório sigiloso do Sistema de Inteligência Brasileiro (Sisbin), que reúne dados da Polícia Federal, da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e das Forças Armadas, entre outras instituições.

Apesar da gravidade do conteúdo do relatório, Ferreira Pinto minimizou o problema e rejeitou a oferta de ajuda do governo federal, segundo essa autoridade. Em resposta, limitou-se a dizer que a situação em São Paulo estava sob controle. O poderio da organização criminosa mencionada pelo ministro seria apenas uma exagero da imprensa.

Alckmin: "ajuda é bem-vinda"

O secretário não quis sequer transferir chefes criminosos do estado para presídios federais, como sugeriu o ministro. Ontem, Ferreira Pinto não quis dar entrevista para comentar o assunto. Na véspera, dissera que recebeu a visita do ministro como "cortesia", e não como missão para oferecer ajuda no combate à criminalidade.

Cardozo não quis falar ontem sobre o conteúdo do relatório. Confirmou o encontro e criticou o que considera arrogância do governo de São Paulo:

- Ninguém resolve problema de segurança pública com arrogância, com prepotência. Pedir auxílio numa soma de esforços é uma prova de maturidade - disse o ministro.

O governador Geraldo Alckmin (PSDB) afirmou ontem que receberia bem a ajuda federal, mas destacou que o ofício divulgado pelo ministro da Justiça, com a oferta de ajuda, não havia chegado:

- Toda ajuda é muito bem-vinda. Temos um bom trabalho de integração com a Polícia Federal. Trocas permanentes de informação com a Polícia Federal - disse Alckmin, afirmando não ter recebido o ofício. - Ainda não chegou. Deve estar chegando.

Alckmin disse ainda que o governo estadual tem combatido o crime organizado.

- Tem de vencer batalhas todo dia. Perseverar nesse trabalho: inteligência e prisão dos criminosos, dentro da lei. Todos vão ser presos - afirmou.

Ontem, o Palácio dos Bandeirantes informou que, este ano, pediu cerca de R$ 156 milhões ao Ministério da Justiça, mas recebeu R$ 4 milhões. Segundo o governo estadual, foram pedidos R$ 8 milhões por meio do Sistema de Gestão de Convênios e Contratos de Repasse (Siconv), dos quais foram liberados R$ 4 milhões. Outros R$ 148 milhões foram pedidos à pasta federal, para compras e projetos tecnológicos e outras despesas.

O ministério confirmou os pedidos, mas informou que não libera recursos sem um plano estratégico, feito com a participação federal. No ofício enviado a Alckmin, Cardozo oferece ajuda, desde que seja elaborado um plano conjunto. Ele também afirma que há vagas nos presídios federais de segurança máxima para acomodar os chefes do crime organizado de São Paulo.

O governo paulista tem recusado a participação em programas federais. Até a proposta do governo federal de combate ao crack foi deixada em segundo plano. Só há duas semanas, foi enviado ofício ao ministério demonstrando interesse.