Título: Para especialistas, estratégia do confronto não funciona
Autor: Ribeiro, Marcelle
Fonte: O Globo, 01/11/2012, País, p. 6

Governo de São Paulo afirma que vai intensificar cooperação

VIOLÊNCIA EM SÃO PAULO

SÃO PAULO O governo de São Paulo erra ao negar a existência e o poder da maior organização criminosa que domina os presídios no estado e ao não fortalecer a Polícia Civil, segundo especialistas em segurança pública. Profissionais ouvidos pelo GLOBO dizem que a Secretaria de Segurança deve privilegiar investimentos em inteligência, e não no confronto, para desarticular criminosos e diminuir a violência.

A diretora da organização não governamental Instituto Sou da Paz Luciana Guimarães diz que o governo estadual voltou a ter um discurso que prega uma política de linha dura e violência para combater a criminalidade. Segundo Luciana isso é ineficiente:

- O risco de continuarmos com esse discurso é voltar aos patamares de violência que existia anos atrás. A violência aumentou, mas é incomparável com o que era há dez anos. Esperamos conter esse ciclo antes de voltars aos patamares de dez anos atrás - disse Luciana.

polícia civil em segundo plano

Para a especialista, a Polícia Civil foi esvaziada na atual gestão estadual.

- A Polícia Civil podia orientar a Polícia Militar na repressão correta e dar o recado de que vai esclarecer os crimes e de que haverá punição. O Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), da Polícia Civil nem tem sido chamado para participar desse processo. Quem tem feito investigação é a Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar, órgão da PM), que só devia ser chamada para combates mais duros.

O jurista e ex-secretário nacional Antidrogas Walter Maierovich criticou o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, por insistir num discurso de militarização que não dá bons resultados, ao invés de mudar de estratégia e partir para a pacificação, como fez o governador do Rio, Sérgio Cabral:

- No Rio, anos atrás, até tanques de guerra foram colocados em frente a favelas. Só que o Rio assistia a um recrudescimento, com organizações criminosas enfrentando o Estado. Mas, num determinado momento, o Rio mudou a a política e partiu para a pacificação e retomada de territórios. São Paulo continua com a mesma política que privilegia o confronto.

O ex-subsecretário nacional de Segurança Pública Guaracy Mingardi, como outros especialistas, critica o governo de São Paulo, que nega a existência da maior organização criminosa do estado ou, quando admite que ela existe, diz que é muito fraca:

- Se você nega, não pode fazer nada. Quando você nega, você não pode fazer ações ostensivas de combate - diz.

Os especialistas dizem que a maior ajuda que o governo federal poderia dar para combater a criminalidade em São Paulo é promover o intercâmbio de informações entre a Polícia Federal e as polícias Civil e Militar, principalmente no que se refere ao tráfico de drogas.

Em nota, o governo de São Paulo afirmou ontem que adotará "todas as providências para intensificar a cooperação no combate ao crime, inclusive no intercâmbio de informações para o aperfeiçoamento do controle de fronteiras".

O professor do Centro de Altos Estudos de Segurança da Polícia Militar de São Paulo e ex-secretário nacional de Segurança Pública José Vicente, porém, defendeu o governo de São Paulo e disse que o Ministério da Justiça não tem muito a oferecer à Secretaria estadual de Segurança.

- O governo federal não tem nada para oferecer. A Força Nacional de Segurança é uma tropa ruim, que não conhece a área. Eles também não têm o que oferecer em termos de inteligência. Ninguém conhece melhor os bandidos e sistema penitenciário que a polícia paulista. E a Polícia Federal é raquítica em São Paulo. A troca de informações é precária - afirma Vicente, para quem a polícia paulista já está dando a resposta necessária à violência - afirmou Vicente.