Título: Bolsa Família não foi decisivo para o PT na eleição municipal
Autor: Piva, Juliana Dal; Lima, Daniel
Fonte: O Globo, 06/11/2012, País, p. 4

Partido teve apenas 31% das vitórias em cidades com alta cobertura.

Uma análise dos dados das eleições municipais deste ano mostra que o Bolsa Família não teve impacto direto para o aumento do número de vitórias do PT nas cidades atendidas pelo programa. O GLOBO comparou o desempenho dos partidos nessas eleições com a cobertura do Bolsa Família pelo Censo 2010, e dividiu as cidades em três categorias: as com baixa cobertura do programa, as com média cobertura e as com alta cobertura. O resultado indicou que, dos partidos que conquistaram ao menos cem prefeituras, foi o PSB que teve proporcionalmente mais vitórias concentradas em cidades com alta cobertura do benefício: 59% do total. O percentual do PT é de 31%, o mesmo do DEM. A maioria dessas cidades está nas regiões Norte e Nordeste.

Embora o programa seja custeado com verba federal, as prefeituras são responsáveis pelos cadastros dos beneficiários. Mas entender como essa dinâmica influencia a eleição para prefeito não é tarefa simples.

Para o professor da PUC-SP Marcel Guedes Leite, que já estudou a influência e analisou os dados, o Bolsa Família é diretamente ligado ao PT e, por isso, pode auxiliar a reeleição de prefeitos de partidos coligados ao governo. O professor diz que, quando pesquisou a reeleição de Lula, percebeu que, no caso dos municípios, os prefeitos acabavam se beneficiando do Bolsa Família independentemente do partido.

- Acho que o efeito do benefício é muito maior na eleição majoritária, até para governador. Mas, nas eleições municipais, as lideranças locais acabam se beneficiando, mesmo as da oposição - afirmou Leite.

O professor Maurício Canêdo Pinheiro, da Fundação Getulio Vargas, discorda e é taxativo: as eleições municipais têm dinâmicas locais.

- Olhando só o Bolsa Família, fica difícil tirar uma conclusão, muitas outras coisas influenciam. A eleição municipal é movida pela agenda local.

Canêdo acredita que o programa não impactou na eleição para o crescimento do PT nem para o declínio do PSDB. Os números, segundo ele, indicam que partidos maiores ganham nas cidades maiores, exceto o PMDB, o de maior capilaridade entre os grandes legendas:

- Partidos grandes ganham cidades grandes, ou ainda, os partidos pequenos só conseguem vencer em cidades pequenas. Nessas cidades pequenas, a cobertura do Bolsa Família é maior. Então, não é nem o "efeito Bolsa Família". Em termos de dividendos, PT ou PSDB não foram nem melhor nem pior por causa do Bolsa Família.

Henrique de Castro, professor da UNB, concorda que o efeito na eleição presidencial é mais evidente, mas ressalta que a influência do Bolsa Família pode estar limitada. Ele acredita que a medida que a população entender que o programa se "naturalizou" ele será menos decisivo na escolha do candidato:

- Os programas ainda influenciam positivamente os candidatos ligados ao partido do governo. Digo ainda porque tenho uma hipótese: a medida que essas medidas se institucionalizam, passam a ser naturalizadas e não se dá mais o benefício a quem as criou. Há a tendência de considerarem natural.