Título: 'Discurso anticorrupção não deve se confundir com antipolítica'
Autor: Sassine, Vinicius
Fonte: O Globo, 08/11/2012, Pais, p. 6

BRASÍLIA A presidente Dilma Rousseff aproveitou a abertura da 15ª Conferência Internacional Anticorrupção para voltar a falar em "combate ao malfeito", expressão muito utilizada por ela na crise política que levou à demissão de seis ministros por suspeita de corrupção no ano passado. Num evento que reúne 1,5 mil delegados de 130 países, a presidente defendeu a liberdade de imprensa como instrumento de combate à corrupção, mas ressaltou que o discurso anticorrupção não deve se confundir com o discurso contra a política. Segundo ela, esse tipo de ataque "serve a outros interesses".

- O discurso anticorrupção não deve se confundir com o discurso antipolítica ou anti-Estado, que serve a outros interesses - disse a presidente em seu discurso.

De acordo com Dilma, a luta contra a corrupção não deve ignorar o papel do Estado como espaço de mobilização e de ação para garantir transparência. Para ela, é preciso valorizar a ética "e o conflito democrático entre projetos". Dilma disse também que o Estado não deve ser o único foco de transparência.

- Outros setores merecem escrutínio - afirmou.

Dilma disse que há excessos na imprensa no Brasil, mas defendeu que a liberdade de expressão deve prevalecer.

- Estou convencida de que, mesmo quando há exageros, e sabemos que eles existem em qualquer área, e nessa específica existe, é sempre preferível o ruído da imprensa livre ao silêncio tumular da ditadura. Conhecemos na pele o que estamos falando - disse a presidente.

Ela estava acompanhada de cinco ministros: Jorge Hage, da Controladoria Geral da União (CGU); Antonio Patriota, das Relações Exteriores; Marco Antônio Raupp, de Ciência e Tecnologia; José Elito, do Gabinete de Segurança Institucional; e Alexandre Tombini, presidente do Banco Central.

Dilma destacou entre as conquistas do Brasil nos últimos anos o Portal da Transparência, alimentado pela CGU, salientando que a iniciativa foi de seu antecessor, o ex-presidente Lula.

- O portal expõe na internet os gastos de todos os órgãos federais realizados até a noite anterior - afirmou Dilma aos participantes da conferência.

A presidente também falou da Lei da Ficha Limpa e da Lei de Acesso à Informação, em vigor desde maio deste ano.

- A lei é uma das mais avançadas do mundo e sujeita todos os entes e poderes da República a dar amplo acesso aos dados de gestão, gastos e históricos - disse a presidente.

Para Dilma, o combate à corrupção é "prática de Estado" no Brasil, e entre os instrumentos para sua execução estão a CGU, o Tribunal de Contas da União (TCU), um Ministério Público "independente" e uma Polícia Federal "atuante".

- O governo oferece amplo respaldo aos organismos de controle, na fiscalização e punição dos malfeitos - afirmou Dilma.

A presidente voltou a defender maior transparência na regulação de fluxos financeiros internacionais, principalmente depois das consequências da crise financeira de 2008.

A conferência anticorrupção é realizada pela Transparência Internacional e reúne chefes de Estado, representantes de governo e da sociedade civil.