Título: A noiva mais desejada
Autor: Mendes, Karla
Fonte: Correio Braziliense, 08/10/2009, Economia, p. 20

Telefônica cobre oferta da Vivendi e propõe à GVT R$ 48 por ação, totalizando R$ 6,5 bi para adquirir 100% da companhia

A GVT, que atua no DF e em alguns estados, é a noiva mais cobiçada do mercado da telefonia fixa. O expressivo crescimento da base de clientes da operadora nos últimos anos, a liderança em portabilidade(1) numérica nas áreas onde atua, sua infraestrutura moderna e a escolha de um plano de negócios agressivo são os principais quesitos que colocaram a espanhola Telefónica e a francesa Vivendi frente a frente no ringue para adquirir a companhia.

O mercado sempre deu como certo que a Telefônica (braço da telefonia fixa do grupo espanhol no Brasil) faria uma oferta para arrematar a GVT e expandir sua área de atuação, hoje restrita ao estado de São Paulo. Mas até então, nada havia sido formalizado. Contudo, depois que a Vivendi assinou um acordo com a GVT para fazer uma oferta pública de ações para adquirir 100% do capital da companhia ao preço de R$ 42 por ação, ou R$ 5,4 bilhões, não restou outra alternativa à Telefônica senão contra-atacar com uma proposta melhor, aumentando o lance para R$ 6,5 bilhões ou R$ 48 por ação.

A Telefônica divulgou ontem fato relevante informando a intenção de adquirir até 100% das ações da GVT, que atende o mercado de telefonia fixa e banda larga nas regiões Sul, Centro-Oeste, Sudeste e Nordeste do país. Após a oferta da Telefônica, a ação ordinária da GVT disparou. Os papéis da companhia fecharam o dia valendo R$ 46,52, o que representa alta de 13,74%. Já os da Telefônica tiveram uma leve queda. As ações preferenciais da companhia fecharam o dia com retração de 1,53% e as ordinárias em baixa de 1,19%.

A GVT informou que avaliará a proposta e se pronunciará ¿no momento apropriado¿. Procurada, a Vivendi não se pronunciou. Fontes do mercado ligadas às operadoras garantem, no entanto, que os controladores da GVT não receberam muito bem a oferta da Telefônica. Mesmo sendo financeiramente superior à apresentada pela Vivendi, o clima é de desconfiança entre os acionistas, que projetam a continuidade do plano de negócios da GVT com a Vivendi, mas não têm essa mesma segurança em relação à Telefônica. Outra preocupação é com a qualidade dos serviços, já que a Telefônica teve sérios problemas com a oferta de banda larga recentemente. A referência são panes do Speedy, pacote de banda larga que a concessionária oferta em São Paulo. Os consumidores também estão apreensivos. Tanto que a reação em blogs na internet foi muito forte e, em sua maioria, negativa.

Preocupação Outra hipótese levantada pelo mercado é que a oferta da Telefônica pode ser uma forma velada de minar um concorrente do mercado, já que GVT tem planos de chegar em São Paulo em 2011. Funcionários e sindicatos também estariam preocupados com perda de empregos. Isso porque, como a Vivendi não possui operações no Brasil, usaria a estrutura da GVT e poderia até aumentar o número de vagas. Já com a Telefônica, não se sabe. Por essas razões, o grupo controlador da GVT continuaria comprometido com a primeira oferta recebida, pois existem outras questões em jogo além da financeira. Quando o acordo com a GVT foi assinado, Jean-Bernard Lévy, presidente da Vivendi, disse que a iniciativa ¿atende o objetivo estratégico da Vivendi de expansão entre as economias emergentes.¿

Especialistas acreditam que a operação trará benefícios. ¿Para a competição no Brasil, as duas ofertas são boas, são melhores que o estágio atual, onde a GVT é uma operadora menor e com menos recursos. Então, nos dois casos, a GVT fará parte de um grande grupo¿, avalia Eduardo Tude, presidente da Teleco, consultoria em telecomunicações.

No caso da Vivendi, o especialista considera que, por se tratar de um novo grupo no Brasil, estimularia a competição. Por sua vez, se a negociação se concretizar com a Telefônica, a concessionária passaria a concorrer em nível nacional com a Oi e a Embratel. Na visão de Camila Saito, analista de telecomunicações da Tendências, como no mercado há um número significativo de empresas pequenas e regionais, a tendência é de consolidação com grandes grupos com maior capacidade de expansão.

1 - Concorrência Portabilidade numérica é o sistema que permite a troca de operadora mantendo o número do telefone. O ranking das operadoras que mais ganharam e perderam com a portabilidade é uma caixa preta, mas pelo menos duas operadoras ¿ Net e GVT ¿ têm feito questão de divulgar os números de clientes conquistados. Em um ano de vigência do sistema, a GVT comemorou a marca de 243 mil ou mais de 61% do total de pedidos da telefonia fixa. A Net, por sua vez, garante que conquistou 175 mil clientes oriundos da concorrência.

Personagens

A dama

A GVT é uma operadora de telefonia fixa e banda larga controlada pelo Grupo Swarth e Global Village Telecom (Holland) BV, que são os acionistas fundadores e controladores da GVT S/A (Holding). A empresa é formada por investidores financeiros, incluindo Egaly Group (37,1%), Magnum Telecom (21,9%), IDB (16,5%), Discount Investment Corporation (16,5%), Quillon (6,7%) e outros. A empresa passou a ter suas ações negociadas no novo mercado da Bovespa em dezembro de 2007. A GVT possui autorização para oferecer serviços de telefonia fixa para todo o Brasil. Ela é a empresa espelho da Região II, que inclui Brasília. A operadora fechou o segundo trimestre de 2009 com 1,9 milhão de assinantes, receita bruta de R$ 665 milhões, receita líquida de R$ 406 milhões e lucro líquido de R$ 70,3 milhões.

Os pretendentes O Grupo Telefónica tem no Brasil o controle acionário da Telefônica, que mantém na Bovespa e na Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) o nome de Telecomunicações de São Paulo S.A. (Telesp). A atuação da Telefônica em telefonia celular no Brasil se dá em parceria com a Portugal Telecom e por meio da Vivo. A Telefônica (Telesp) é concessionária de telefonia fixa na região III, tendo incorporado as seguintes empresas: Telesp, Companhia Telefônica da Borda do Campo (CTBC) e Ceterp. A operadora encerrou o segundo trimestre com 11,47 milhões de clientes de telefonia fixa, receita bruta total de R$ 5,88 bilhões, receita líquida de R$ 3,93 bilhões e lucro líquido de R$ 545 milhões.

A Vivendi é um dos principais grupos de comunicação e entretenimento do mundo, formado por cinco empresas. A primeira delas é a SFR, a segunda operadora móvel e fixa da França, que terminou 2008 com 19,7 milhões de celulares e 3,9 milhões de acessos banda larga fixos. A SFR é uma joint venture da Vivendi (60%) com a Vodafone (40%) que adquiriu em 2008 a operadora de banda larga Neuf Cegetel. A segunda é a Maroc Telecom, operadora líder em telefonia móvel e fixa em Marrocos, com 14,5 milhões de celulares. A terceira é o Canal+, empresa líder em TV por assinatura na França. A quarta é o Universal Music Group, número um em música no mundo. A quinta é a Activision Blizzard, número um em vídeogames no mundo.

Fonte: Teleco