Título: União e SP fazem acordo antiviolência
Autor: Teixeira, Carlos Alberto
Fonte: O Globo, 02/11/2012, Economia, p. 21

Após troca de acusações, o governo paulista e o Palácio do Planalto decidiram combater em conjunto a nova onda de violência. Chefes de facção criminosa serão levados para presídios federais. Ontem, mais dois PMs foram executados.

Acordo para tentar abalar o crime

Dilma e Alckmin decidem transferir chefes de facção paulista para presídios federais

Luiza Damé

Sérgio Roxo

Em campo inimigo. Policiais do Comando de Operações Especiais buscam integrantes de facção criminosa comandada de dentro dos presídios paulistas na favela de Paraisópolis

André Lessa/Agência Estado

violência em são paulo

BRASÍLIA E SÃO PAULO Após dias de desentendimento e troca de farpas entre o Ministério da Justiça e a Secretaria de Segurança de São Paulo, a presidente Dilma Rousseff telefonou ontem para o governador Geraldo Alckmin e ofereceu a adoção de um plano de ação conjunta para conter a onda de violência no estado. A primeira medida já foi acertada: a transferência, para penitenciárias federais, de detentos que chefiam a facção que atua em São Paulo.

Ontem, a série de crimes teve novo desdobramento em São Paulo. Dois policiais militares, sem farda, foram executados na Favela de Heliópolis, na Zona Sul, durante a madrugada. Desde o começo do ano, 88 PMs foram mortos. A cidade também registrou 12 assassinatos entre a noite de quarta-feira e a madrugada de ontem. O número de civis mortos desde o último dia 19 chega a 79, executados em ações de criminosos ou em confrontos com a polícia.

Durante a conversa, Dilma e Alckmin também acertaram que haverá uma reunião na próxima semana entre as áreas de segurança dos governos estadual e federal para discutir possibilidades de ações conjuntas. A presidente ligou para o governador por volta das 14h. Alckmin, então, conversou com o secretário de Segurança e retornou a ligação para acertar os detalhes da parceria. No governo paulista, a iniciativa foi interpretada como um descontentamento de Dilma com a forma pela qual a crise de segurança vem sendo enfrentada.

túnel para venda de drogas na usp

Em junho, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, teria alertado o secretário de Segurança, Antônio Ferreira Pinto, sobre a possibilidade de agravamento da violência no estado e oferecido ajuda federal. O secretário disse que havia recebido apenas uma visita de cortesia do ministro.

- A presidente não participa dessa troca de versões. A situação levou a presidente a ligar e oferecer ajuda. O importante é prestar um serviço à população de São Paulo - afirmou a ministra da Secretaria de Comunicação Social, Helena Chagas, ao anunciar a conversa.

Cardozo será o representante do governo federal na reunião com a área de segurança do governo de São Paulo para definir as ações conjuntas. Helena Chagas informou que o detalhamento das ações será debatido entre o ministro e o representante da Secretaria de Segurança.

- O ministro vai se reunir com os interlocutores do governo do estado e ver o que pode ser feito. A conversa (entre Dilma e Alckmin) foi mais geral - completou.

O compromisso de Dilma e Alckmin foi tratar a questão da segurança da mesma forma das parcerias existentes nos programas de combate à miséria e na construção do Rodoanel. Por enquanto, o governo estadual tem realizado operações em favelas da cidade para prender criminosos ligados à facção criminosa organizada a partir dos presídios paulistas. Na Favela São Remo, na Zona Oeste, foi encontrado um túnel para transportar drogas para dentro da Cidade Universitária da USP, vizinha do local. Estudantes podiam comprar droga sem ir à favela.