Título: CPI do Cachoeira: MP terá dados sigilosos
Autor: Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 02/11/2012, País, p. 6

Requerimentos que não serão apreciados poderiam atingir governo e oposição

BRASÍLIA Uma máxima no Congresso diz que toda CPI que começa com apoio de todos os partidos não chega a lugar algum. O enterro da CPI do Cachoeira, que agrada a todos os parlamentares, é mais um exemplo. Levantamento realizado nos 533 requerimentos que estão para ser votados - e que não serão - demonstra que a troca de chumbo para atingir governistas e oposicionistas é grande e podia atingir a todos.

Sem qualquer disposição para investigar mais nada, a CPI enviará os dados que recebeu sob sigilo ao Ministério Público, que já investiga o esquema do bicheiro Carlinhos Cachoeira, preso desde fevereiro.

Há um mês e meio, parlamentares da ala independente - PDT e PPS - procuraram os procuradores que cuidam do caso em Goiânia e acertaram que irão transferir os dados para auxiliar o trabalho do MP.

A CPI se encerra com o eventual indiciamento de alguns políticos citados, mas nem todos. Estarão no relatório nomes como o do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB) e boa parte de seus assessores, além do prefeito de Palmas, Raul Filho (PT). O governador Agnelo Queiroz deverá ser poupado. Além de figuras políticas e o grupo ligado a Cachoeira - a mulher atual dele, Andressa Mendonça; a ex, Adriana Aprígio; o ex-cunhado, Adriano Aprígio; e o ex-vereador Wladmir Garcez, entre outros.

Ao longo da CPI, os parlamentares mostraram quem eram seus alvos. Do lado da oposição, senadores e deputados queriam convocar para depor a presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster; o governador do Rio, Sérgio Cabral; o ex-assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz; o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo; e até o presidente do BNDES, Luciano Coutinho.

Já os governistas tinham como estratégia chamar ao banco da CPI o governador do Tocantins, Siqueira Campos (PSDB) e até José Serra (PSDB). As quebras de sigilo bancário, fiscal e telefônico também atiraram para todo lado, muitas vezes para provocar dano político.

O deputado federal Miro Teixeira (PDT-RJ) disse que de nada valeria dar sobrevida à CPI se não houvesse quebras de sigilos de empresas fantasmas do esquema de Cachoeira que receberam dinheiro da construtora Delta. Para Miro, há na CPI uma "turma do cancã" - referência às bailarinas do Moulin Rouge - que só aparece para entreter a plateia.

Essa turma , segundo ele, defende publicamente a continuidade da CPI, mas, nos bastidores, torce para que ela acabe o quanto antes.

- Espanta-me muito o que se passa dentro da CPI e, depois, o que vejo nas declarações de colegas na televisão - afirmou Miro ontem, um dia depois de a CPI decidir que os trabalhos serão prorrogados por 48 dias e não por 180, como defendiam integrantes da oposição.