Título: Bancos aumentam provisão contra calote em R$ 9 bilhões
Autor: Scrivano, Roberta
Fonte: O Globo, 09/11/2012, Economia, p. 33

Com queda dos juros, BB tem lucro 5,6% menor no 3º trimestre

Banco do Brasil (BB), Bradesco, Itaú Unibanco e Santander aumentaram em 26,4% as provisões para pagamentos em atraso em setembro deste ano contra o mesmo mês de 2011: de R$ 37,13 bilhões para R$ 46,92 bilhões, R$ 9,7 bilhões a mais, mostra estudo da Austin Rating. No BB, as provisões cresceram 20,4%, de R$ 8,76 bilhões para R$ 10,55 bilhões. Simultaneamente, os índices de inadimplência acima de 90 dias continuam em ascensão, embora em ritmo mais lento que no início do ano. Até agora, só Bradesco e Itaú registraram retração no calote, de 0,1% e de 0,2%, respectivamente. Já a inadimplência do BB subiu 0,02%: de 2,15%, em junho, para 2,17% em setembro.

- As provisões tiveram impacto nos resultados, sim, sobretudo no Santander e no Itaú. Mas é importante ter provisão. Provisão não é perda, é apenas uma estimativa do não recebimento. É preciso acompanhar esses números ao longo do tempo. Se consecutivamente as provisões crescerem muito, aí sim pode preocupar - disse Luis Miguel Santacreu, analista da Austin Rating.

Maior instituição financeira da América Latina, o BB viu seu lucro encolher 10,5% no acumulado dos primeiros nove meses deste ano. De acordo com balanço publicado ontem, o ganho no período foi de R$ 8,24 bilhões, contra R$ 9,21 bilhões de janeiro a setembro de 2011. Considerando apenas o terceiro trimestre, a queda foi de 5,6% (de R$ 2,89 bilhões, no mesmo período do ano passado, para R$ 2,72 bilhões agora). Assim como os três principais bancos privados do país (Bradesco, Itaú Unibanco e Santander), o BB também foi afetado pela queda dos juros básicos (Selic), que reduziu a margem financeira das operações, e pelo aumento das despesas com provisões para devedores, que pesaram nos resultados.

O lucro líquido de BB, Bradesco, Itaú e Santander, somado, caiu 7,42% de setembro de 2011 para o mesmo mês deste ano - de R$ 31,14 bilhões para R$ 28,83 bilhões, ainda segundo o levantamento da Austin. A concessão de empréstimos nos quatro bancos, porém, cresceu 12,27% do terceiro trimestre de 2011 para este ano, de R$ 1,18 trilhão para R$ 1,33 trilhão. Só no BB, a carteira atingiu R$ 532,3 bilhões, aumento de 20,5% em 12 meses. A previsão do banco é encerrar o ano com crescimento entre 17% e 21%. O resultado do BB puxou forte queda das ações do banco na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa): os papéis ordinários (ON, com direito a voto) recuaram 4,45%, terceira maior queda do Ibovespa, índice de referência da Bolsa.

- A queda do nosso lucro foi muito pequena. A comparação da Selic de hoje com a de um ano atrás já explica a maior parte dessa queda. Também houve a pressão da redução dos spreads , que era natural. Mas os volumes compensarão. Ter uma grande carteira de crédito é a nossa aposta - afirmou o vice-presidente de Gestão Financeira e de Relações com Investidores do BB, Ivan Souza Monteiro.

Fase de transição

Apesar dos lucros menores e de provisões e inadimplência maiores, analistas do setor financeiro veem uma fase de transição das instituições financeiras. Segundo eles, os bancos estão se adaptando ao novo cenário macroeconômico e financeiro, à procura de um modelo de negócios adequado aos juros em queda, compensando-os com o ganho de escala na concessão de crédito com menos risco. João Augusto Frota Salles, analista de bancos da Lopes Filho Consultoria, pondera ainda que as provisões crescem naturalmente quando a carteira de crédito aumenta.

Como alternativa às perdas, nos primeiros nove meses do ano os bancos reforçaram seu caixa com a cobrança de tarifas, cuja receita cresceu 13,37%. Mas analistas ponderam que esse aumento se deve muito à ampliação na base de correntistas dos bancos. Só no BB, por exemplo, foram três milhões de novos clientes desde janeiro.

- Os bancos buscam fazer com que as receitas de serviços cubram o custo com pessoal. Hoje eles têm uma folga. Essa relação é de 130% ou 120%. Mas creio que isso caia um pouco a curto prazo, pela concorrência dos bancos públicos. Para mim, o diferencial de ganhos, que o Bradesco já mostra, será em seguro e previdência - explicou Salles, da Lopes Filho.