Título: Que ricos paguem mais
Autor: Ribeiro, Fabiana
Fonte: O Globo, 10/11/2012, Economia, p. 33
Obama discursa e defende acordo para evitar que PIB fique negativo no início de 2013
RIO e WASHINGTON Três dias após ser reeleito, o presidente americano, Barack Obama, em pronunciamento na Casa Branca, apelou para que republicanos e democratas entrem em acordo e, assim, desviem a economia de uma recessão, representada por US$ 600 bilhões em aumento de tributos, além de cortes de gastos do governo que podem entrar em vigor a partir de janeiro - o chamado "abismo fiscal". Preparando terreno para um confronto com os republicanos no Congresso, Obama disse estar aberto a acordos e novas ideias, e ressaltou que a saída da crise não está somente em cortes nos orçamentos: é preciso combinar menos gastos com arrecadação, o que significa "pedir aos americanos mais ricos que paguem um pouco mais de impostos".
- Sou aberto à negociação. Mas não sou aberto a nenhuma abordagem que não seja equilibrada. Não vou pedir para os idosos e as crianças pagarem toda a dívida, enquanto eu e outros que ganham acima de US$ 250 mil não fazemos nenhum esforço extra - disse o presidente, em sua primeira aparição desde a vitória sobre o republicano Mitt Romney nas eleições de terça-feira. - É hora de voltar ao trabalho.
Em seu pronunciamento, o presidente disse querer aprovar, antes de janeiro, a manutenção das reduções de impostos para os contribuintes que ganham menos do que US$ 250 mil por ano, numa retomada de um dos lemas de sua campanha de "fortalecer a classe média". Para ele, a medida beneficiará 98% da população e 97% das pequenas empresas, e deve ser aprovada antes da virada do ano, quando expiram os cortes de impostos aprovados durante a gestão de George W. Bush.
- Não esperemos. Vamos prorrogar os impostos reduzidos para a classe média logo agora. Este passo vai tirar a incerteza da mesa. O Senado já aprovou o projeto, falta passar pela Câmara. Estou com a caneta pronta para assiná-lo - afirmou ele, que disse que já negociou com o Congresso redução de US$ 3 trilhões no déficit americano na próxima década e que são necessários cortes de mais US$ 4 trilhões a serem negociados. - Se o Congresso falhar, todo mundo irá pagar mais impostos a partir de 1º janeiro. Todo mundo.
Embora discordem sobre medidas imediatas para evitar a crise fiscal iminente, Obama e os republicanos podem encontrar um terreno comum nos pedidos para promulgação nos próximos seis meses de um pacote maior de medidas de redução do déficit, incluindo reescrever as leis fiscais dos EUA.
De acordo com o Escritório do Orçamento do Congresso (CBO, na sigla em inglês), sem um acordo entre democratas e republicanos - ou seja: com todos os cortes de gastos sendo efetuados e sem as isenções fiscais -, o PIB americano seria negativo no primeiro trimestre de 2013 e o crescimento dos EUA cai 0,5 ponto percentual no ano. No mercado de trabalho, os efeitos apareceriam na taxa de desemprego que subiria dos atuais 7,9% para 9,1% no ano que vem.
INCERTEZAS CONTINUAM
Para especialistas, o discurso de Obama não mudou o cenário do país: as incertezas da economia americana continuam. E também não foi forte o suficiente para garantir que qualquer pacto seja feito antes da virada do ano. Para Luis Otávio Leal, economista do ABC Brasil, não haverá, portanto, uma solução definitiva para os problemas do presidente.
- Obama tem uns 40 dias para que republicanos e democratas entrem em acordo sobre quem será beneficiado pelos cortes de impostos e sobre quem vai recair o ônus da tributação maior. Então, alguns benefícios fiscais devem acabar prorrogados, assim como o aumento de impostos deve ser segurado por seis meses. Mas isso só empurra o problema para frente - disse Leal, para quem a provável falta de acordo deve garantir volatilidade ao mercado, com aumento da aversão ao risco.
A economista Mônica de Bolle, da Galanto Consultoria, vislumbra um cenário mais otimista. Para ela, é possível que, em 40 dias, saia algum acordo. Até porque, no novo mandato, Obama pode ter postura mais agressiva.
- Democratas e republicanos reconhecem os riscos do abismo fiscal. Não entrar em consenso algum seria, para qualquer um dos partidos, um suicídio político - disse Mônica, acrescentando que o discurso não trouxe grandes novidades e, portanto, as incertezas continuam.
Os números da maior economia do planeta corroboram um cenário de muitas incertezas. O PIB anual se expandiu a uma média de apenas 2,1% nos últimos dois anos. Não apenas o governo está chegando a um nível insustentável, com a dívida agora superando US$ 16 trilhões, como a recessão deixou cicatrizes duradouras no mercado de trabalho, o que deve manter o desemprego elevado por muitos anos. Apenas cerca de 4,5 milhões dos 8,7 milhões de empregos perdidos durante a contração foram recuperados. Cerca de 23 milhões de americanos estão desempregados ou numa situação de subemprego. ( Com agências )