Título: Anísio Teixeira: dossiê aponta para crime político
Autor: Soares, Rafael
Fonte: O Globo, 10/11/2012, País, p. 10

Biógrafo do educador entregou à Comissão da Verdade depoimentos que desmentem versão de morte acidental

Para João Augusto Rocha, professor da Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e biógrafo de Anísio Teixeira, o educador baiano foi vítima de crime político. Rocha entregou à Comissão Nacional da Verdade (CNV), ao lado da família de Teixeira - que também não aceita a versão oficial de morte acidental -, um dossiê com depoimentos que comprovariam sua tese. Em entrevista ao GLOBO, o professor conta que ouviu de Luiz Viana Filho, governador da Bahia na época do desaparecimento e ligado aos militares, e do acadêmico Abgar Renault, amigo de Anísio, que o ex-reitor da Universidade de Brasília (UnB) foi detido e levado para instalações da Aeronáutica no dia em que desapareceu.

- Viana Filho marcou uma entrevista comigo em 15 de dezembro de 1988 porque sabia que estava escrevendo o livro "Anísio em movimento". Em um momento, ele pediu que eu desligasse o gravador e contou que, no dia em que desapareceu, 13 de março de 1971, Anísio estava preso na Aeronáutica - revela Rocha.

Na última terça-feira, a CNV e a Comissão da Verdade da Universidade de Brasília (UnB) assinaram um termo de cooperação com o objetivo de ampliar as investigações da morte do educador.

Anísio foi encontrado morto no fosso do elevador do prédio onde morava seu amigo Aurélio Buarque de Holanda, no Flamengo, em 13 de março de 1971. A versão oficial, divulgada na época pela polícia, aponta morte acidental. No entanto, jornais da época relatam que não havia sinais de queda: duas vigas de concreto localizadas acima do fundo do fosso com um palmo de distância entre si seriam rompidas com a passagem de um corpo. Elas foram encontradas intactas.

Rocha também afirma que coletou outros depoimentos que confirmam a versão de assassinato. Nenhum foi gravado. Ele argumenta que as informações só foram reveladas 50 anos após a morte de Anísio porque a família tinha medo de retaliações e por respeito às fontes, que não autorizaram a divulgação dos fatos.

- O acadêmico Abgar Renault, antes de morrer, em 1995, procurou o genro de Anísio, Paulo Alberto Monteiro de Barros, o Artur da Távola. Ele tinha a informação, dada pelo então comandante do 1º Exército, Sizeno Sarmento, de que Anísio foi visto em instalações da Aeronáutica no mesmo dia em que foi dado como desaparecido. Outra pessoa que confirmou a versão de assassinato foi o médico Afrânio Coutinho, morto em 2000. Ele me disse que teve acesso à autópsia de Anísio e que era impossível ele ter morrido devido à queda. Ele tinha todos os ossos quebrados, o que seria impossível em uma situação de queda. Coutinho também afirmou que a autópsia indicou golpes de objetos cilíndricos no corpo de Anísio.