Título: Gastos do governo pesam nas contas
Autor: Bonfanti, Cristiane; Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 07/11/2012, Economia, p. 29
Analistas alertam para o aumento contínuo nas despesas correntes da União, o que prejudica resultado
SÃO PAULO Além da perda de receita com as desonerações, motivo apontado pelo ministro Guido Mantega para o superávit primário abaixo da meta este ano, os analistas dizem que pesará também negativamente no resultado fiscal o contínuo aumento dos gastos do governo.
- Dois fatores provocaram o descumprimento da meta este ano: a desaceleração das receitas e o aumento do gasto público - ressalta Maurício Oreng, economista do Itaú BBA, que projeta um superávit primário de 2,5% do PIB neste ano, abaixo do objetivo de 3,1% estipulado pelo governo.
Isso, diz Oreng, vai obrigar a administração federal a abater do resultado os investimentos do PAC e do Minha Casa, Minha Vida para atingir a meta. Segundo ele, esses investimentos permitem um abatimento de até 0,9 ponto percentual da meta cheia.
O economista Marcos Fantinatti, da consultoria MCM, projeta um superávit primário de cerca de 2,6% do PIB neste ano, o suficiente para manter a relação dívida/Produto Interno Bruto (PIB) sob controle, próxima dos 36,5% registrados no fechamento do ano passado.
- A meta continha uma gordura que foi queimada mais com o aumento dos gastos correntes do que com o investimento - diz Fantinatti.
Para Cláudio Frischtak, presidente da Inter.B, o gasto corrente do governo não caiu por causa do alto "custo político" de cortar despesas em ano eleitoral. Por isso, ele acredita em maior rigor em 2013, juntamente com outras medidas, como a desindexação da economia.
- Teremos uma perspectiva melhor de cumprirmos a meta de superávit no ano que vem - afirma Frischtak.
Para o Itaú, porém, o governo descumprirá novamente a meta de superávit em 2013, obtendo uma economia antes do pagamento de juros equivalente a 2,2% do PIB. Resultado que já leva em consideração a ampliação das desonerações tributárias e o aumento do investimento, com o andamento das obras do PAC 2.
- Apesar do descumprimento das metas, esse resultado ainda aponta uma redução da relação dívida/PIB a longo prazo, se levarmos em conta um crescimento econômico entre 3,5% e 4% nos próximos anos. A diferença é que essa queda será mais lenta do que ocorreria caso a meta fosse cumprida - afirma Oreng.
O professor do Instituto de Economia da Unicamp, Francisco Lopreato diz que o cenário de juros baixos implica metas menores de superávit primário nos próximos anos.
- A queda dos juros ainda não repercutiu de forma tão significativa no custo da dívida. A tendência é que o gasto com juros caia ainda mais nos próximos anos - afirma Lopreato.