Título: Biógrafo ouviu testemunhos sobre prisão de educador
Autor: Soares, Rafael; Otavio, Chico
Fonte: O Globo, 07/11/2012, País, p. 9

Família chegou a pensar que Anísio Teixeira estava com a Aeronáutica

Durante o lançamento da comissão da verdade da UnB, em agosto, o professor de engenharia Universidade Federal da Bahia João Augusto Rocha, biógrafo de Anísio Teixeira, levantou a suspeita de assassinato, apontando vários indícios de que o educador fora vítima de crime político. Rocha disse que teria ouvido de Luiz Viana Filho, ex-governador da Bahia, que Anísio havia sido preso no dia em que desapareceu. Ele contou também que os médicos Afrânio Coutinho e Clementino Fraga Filho tiveram acesso ao corpo de Anísio e concluíram que, pelos ferimentos, era impossível ele ter morrido devido à queda no fosso do elevador.

O educador desapareceu após vistar o amigo Aurélio Buarque de Holanda. A família, antes de localizar o corpo no fosso do elevador, chegou a pensar que ele fora preso pela Aeronáutica, pois Anísio era alvo de perseguições políticas pelas posições contrárias ao regime. Para o diplomata Paulo Sérgio Pinheiro, conselheiro da Comissão Nacional da Verdade (CNV), a polícia não investigou devidamente o caso na época:

- Diziam que ele estava nas dependências da Aeronáutica. Alguns dias depois, ele apareceu no poço de um elevador de cócoras, sem sinais de ter se defendido no caso de queda. Todas essas circunstâncias são muito estranhas Não posso afirmar que não há nada de conclusivo porque ainda não abri o dossiê, mas vamos usar nosso poder de acessar documentos e convocar pessoas para prestar depoimentos para esclarecer o que houve.

A agenda da Comissão da Verdade, ontem, também mobilizou historiadores em torno de um debate sobre os antecedentes do golpe de 1964. No primeiro de uma série de encontros com intelectuais, a conselheira Rosa Cardoso recebeu no Palácio do Itamaraty, no Centro do Rio, os professores Daniel Aarão Reis (UFF), Maria Celina D"Araújo (PUC-Rio) e Angela de Castro Gomes (CPDOC/FGV). Eles discutiram o formato final do trabalho da comissão.

Para Ângela de Castro Gomes, não cabe à Comissão produzir narrativas sobre o período, pois "elas já existem e vão continuar a existir sem a existência da Comissão, nas universidades". Daniel Aarão disse que vai ser impossível chegar a um consenso dentro da historiografia:

- Vai ser impossível chegar a um consenso dentro da historiografia. Não se pode ter como perspectiva construir uma narrativa oficial, afinal esse não é um relatório de governo, mas é um relatório da nação. O legado é que importa.