Título: Gurgel e Barbosa vão evitar pôr em debate agora o caso Valério
Autor: Herdy, Thiago
Fonte: O Globo, 07/11/2012, País, p. 7

Procurador e relator do mensalão acham que único objetivo da defesa do réu é tumultuar o processo

Enviado especial

UM JULGAMENTO PARA A HISTÓRIA

ARACAJU Pelo menos até o fim do cálculo das penas dos condenados no mensalão e a publicação do acórdão do julgamento no Diário Oficial, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, e o relator do mensalão, Joaquim Barbosa, não pensam em provocar um debate entre os ministros do Supremo sobre o pedido de delação premiada apresentado no fim de setembro por Marcos Valério, operador do esquema.

Na Procuradoria Geral da República, avalia-se que o objetivo da defesa de Valério é tentar tumultuar o processo e anulá-lo pela força de uma nova instrução criminal, o que reabriria a investigação. A defesa de Valério nega que seja um artifício nesse sentido.

Na única ocasião em que aceitou falar sobre eventuais contribuições que Valério poderia dar à Justiça, o advogado Marcelo Leonardo admitiu que nada poderia ser feito em relação ao processo em curso, mas apenas em outras investigações que envolvem seu cliente.

Preocupado com o risco de ver os três meses de julgamento serem perdidos por causa da ação de um dos réus, Gurgel trata como impossível a possibilidade de provocar os magistrados do STF a decidir sobre o tema neste momento. Um dos ministros do STF ouvidos ontem pelo GLOBO disse que, em tese, Valério poderia ser beneficiado até mesmo durante a fase de execução de suas condenações na Ação Penal 470, mas seria necessária uma iniciativa do Ministério Público para isso. Os ministros já foram informados de que Gurgel não está disposto a tomar essa iniciativa, pelo menos até o fim do julgamento.

Ontem, durante encontro com juízes, em Aracaju, o ministro Joaquim Barbosa disse que não falaria sobre qualquer questão "polêmica relacionada à Ação Penal 470" e apenas sobre generalidades. Ao ser perguntado sobre o impacto do depoimento de Valério, disse que nada tinha a dizer. No entanto, a interlocutores, Barbosa chegou a dizer que acha a ideia de discutir o assunto neste momento "uma loucura completa".

Em setembro, Valério viajou a Brasília para prestar um depoimento sigiloso ao MP. Disse ter informações relevantes sobre o envolvimento do ex-presidente Lula e do ex-ministro Antonio Palocci em atividades intermediadas por ele. Segundo a revista "Veja", Valério também disse ter sido procurado para dar dinheiro a uma testemunha do caso do assassinato do ex-prefeito petista Celso Daniel, de Santo André.

Promotores de SP querem ouvir Valério

Em São Paulo, promotores que investigaram o assassinato de Celso Daniel pediram a Gurgel detalhes sobre o depoimento de Valério e também querem ainda ouvir o publicitário.

- Há o interesse. Há uma série de pontos que coincidem com elementos da promotoria sobre o caso - disse o promotor Roberto Wider Filho, que iniciou as investigações sobre o assassinato do prefeito, em janeiro de 2002.

Em 2006, o Ministério Público de São Paulo tentou ouvir Valério, mas não teve sucesso. Na Justiça de Santo André, tramita ação que vincula a morte do ex-prefeito a suposto esquema de corrupção para favorecer o PT.