Título: Para especialistas, efeito de medidas será passageiro, caso não ocorra mudança estrutural
Autor: Roxo, Sérgio
Fonte: O Globo, 07/11/2012, País, p. 3

Agência integrada de inteligência, dizem estudiosos, já deveria ter sido implementada há muito tempo

SÃO PAULO Sem discutir, paralelamente, a adoção de uma política nacional de segurança pública, as medidas de integração entre o governo paulista e o Ministério da Justiça correm o risco de ser apenas um paliativo para a crise de violência que São Paulo enfrenta neste ano. Para Cláudio Chaves Beato Filho, coordenador do Centro de Estudos em Criminalidade e Segurança Pública (Crisp) da UFMG, a criação de uma agência de inteligência integrada não passa de uma "força-tarefa para apagar incêndio". Já a pesquisadora Camila Nunes Dias, do Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da USP, afirma que algumas das propostas, como as blitze nos limites do estado, servem mais como resposta à sociedade do que para resolver o problema.

- As blitzes aumentam o volume de apreensões, mas por quanto tempo? Vai se fazer um espetáculo. Esse plano é uma forma de resposta imediata, de dar uma sensação de que algo está sendo feito - diz Camila, que também é professora da Universidade Federal do ABC.

A pesquisadora se disse surpresa sobre o fato de a agência de inteligência integrada só ter sido pensada agora.

- Supúnhamos que essa integração já existisse. Se é mesmo novidade, antes tarde do que nunca - afirmou Camila, para quem o país carece de "políticas públicas de fato". - O problema é que, passada a crise, tudo volta a ser igual, e essa integração se desfaz.

Para Cláudio Beato, a integração nasce com os dias contados:

- A coisa mais desarticulada do país é a segurança pública. O que fizeram hoje foi criar uma força-tarefa. Essa cooperação vai se desmontar porque as polícias não foram feitas para trabalhar em conjunto - diz o especialista, que completou: - É preciso uma estratégia mais estruturada para combater esse tipo de organização criminosa.

Renato Sérgio de Lima, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, disse que o plano apresentado ontem pelos governos federal e estadual é positivo.

- Essa foi a resposta possível por parte do Poder Executivo. Falta a articulação com o Legislativo e o Judiciário - avaliou Renato de Lima.

Segundo ele, a manutenção de uma agência de cooperação entre as polícias depende de mudanças legislativas:

- Por enquanto, é uma resposta positiva a uma emergência.

Beato afirma ainda que é preciso melhorar o sistema prisional e discutir a punição no Brasil.

- Muitas pessoas que estão presas não deveriam estar. E outras, que deveriam estar presas, estão à solta - diz o pesquisador, que defende ainda que a mudança estrutural da segurança pública deveria ser iniciada pela governo federal: - São alterações importantes, que incluem mudanças no Congresso Nacional, na forma como as polícias se organizam nos estados. Teria de acabar com a obrigação dos estados de ter o mesmo modelo de polícia e de redefinir o papel das polícias no país.