Título: O momento propício para vir para a França é agora
Autor: Eichenberg, Fernando
Fonte: O Globo, 03/11/2012, Economia, p. 25

Às vésperas da visita de Dilma Rousseff a Paris, em dezembro, a Câmara de Comércio Brasil-França (CCBF) realiza terça-feira seu jantar de gala anual, criado pelo embaixador brasileiro José Maurício Bustani. O diplomata Philippe Lecourtier, presidente do conselho de administração da CCBF, diz que o tema deste ano será economia.

Correspondente

Paris

Como o senhor vê o atual estágio das relações Brasil-França?

Nossa preocupação hoje é a fraca presença brasileira na Europa em geral, e na França em particular, porque pensamos que uma boa relação tem de ser equilibrada, o que hoje não é o caso. Há mais de 500 empresas francesas que trabalham no Brasil, com entusiasmo e investimentos consideráveis. A França é o quarto maior investidor estrangeiro no Brasil. GDF/Suez, Valorex, Lafarge, Renault, PSA, todas anunciaram um incremento de atividades e de investimentos. A Technip e a Alstom também. Mas no sentido inverso, notamos uma presença brasileira insuficiente.

Quais são as razões?

Compreendo o fato de que as empresas brasileiras tratem em primeiro lugar seu mercado nacional. Mas acredito ser fundamental que um país como o Brasil tenha uma presença internacional mais importante. Empresas brasileiras possuem uma forte posição na América Latina, novas posições na África, mas creio indispensável que estejam nos Estados Unidos e na Europa. A Europa permanece como o primeiro mercado de consumo do mundo.

Qual é a influência da crise europeia neste contexto?

Este é o momento propício para vir para cá. Hoje na Europa, principalmente na França, os ativos não são muito caros, porque estamos numa situação de crise. É o momento de comprar. E hoje a taxa cambial está favorável ao Brasil.

Como melhorar isto?

Precisamos nos conhecer mais e promover intercâmbios mais afinados. Informar mais sobre setores como o da energia, o agroalimentar ou o do design da moda. Já fazemos isso na área militar, nas relações entre os dois Estados. Por que as empresas privadas não fariam a mesma coisa, associações em bases tecnológicas? E há o comércio, que já é forte, mas que pode ser melhorado.

Como o senhor vê a competitividade nos dois países?

Há um problema de competitividade dos dois lados. Devemos ser mais competitivos, e os brasileiros também. Brasil e França precisam se ajudar. Porque, amanhã, países como os nossos só se salvarão pela inovação. Se o Brasil deseja se tornar um gigante bem equilibrado, é preciso que sofistique sua produção, podemos encontrar trocas úteis. Mas é preciso que as empresas se conheçam.

Há um desconhecimento?

A imagem da França como um país industrial não é muito clara para os brasileiros. É um pouco culpa dos franceses. Mas em termos de competitividade e de inovação estamos praticamente no mesmo nível do que o de nossos vizinhos.