Título: Saturação máxima
Autor: Ribeiro, Marcelle; Abos, Marcia
Fonte: O Globo, 03/11/2012, País, p. 3

Governador anuncia ampliação de operação policial em favelas; mais um PM é morto

VIOLÊNCIA EM SÃO PAULO

SÃO PAULO Um dia depois de o Palácio do Planalto e o governo paulista selarem um acordo para tentar conter a onda de violência em São Paulo, que já deixou 89 policiais e mais de 80 civis mortos, o governador Geraldo Alckmin anunciou a ampliação da Operação Saturação, da Polícia Militar, nas periferias da capital, que consiste em colocar um grande efetivo de policiais dentro de comunidades

- A Operação Saturação continua. Começamos em Paraisópolis, com prisão em flagrante de quase 20 criminosos, armamento pesado e drogas. Depois fizemos Campo Limpo, Capão Redondo e São Remo. Essas operações vão continuar - afirmou o governador.

Na Saturação, os policiais montam pontos de bloqueio, abordam suspeitos para fazer revistas e circulam pelas favelas, com carros e motos. Também são usados pelo menos dois helicópteros nas buscas. A ação é orientada pelo serviço de inteligência da PM, que monitora criminosos ligados à facção criminosa que atua no estado. As comunidades escolhidas para receber a operação são, segundo o governo, pontos de refugio desses criminosos.

A primeira área a ser ocupada foi a favela de Paraisópolis, a segunda maior da cidade. Na sequência, a PM também aumentou a vigilância em outras duas regiões: Campão Limpo e Capão Redondo, também na Zona Sul. Capão Redondo e Campo Limpo estão entre os bairros com mais homicídios dolosos (intencionais) na cidade neste ano, 74 de um total de 919.

Após participar da missa inaugural do Santuário Mãe de Deus, em Interlagos, o governador falou à imprensa sobre a conversa que teve na véspera por telefone com a presidente Dilma, quando foi acertada a ajuda do governo federal.

- Tenho tido com Dilma Rousseff um diálogo franco, generoso e aberto. Ontem (quinta-feira) conversamos duas vezes por telefone. As equipes tanto do governo do estado, da Secretaria de Segurança Pública, e da Administração Penitenciária, quanto do Ministério da Justiça vão na semana que vem estabelecer procedimentos nas várias áreas. Cabe às equipes técnicas definir quais parcerias podem ter mais eficácia.

A última vez em que governos federal e estadual fizeram uma parceria na área de segurança pública foi em 2006, quando a facção criminosa que controla as penitenciárias paulistas realizou uma série de ataques contra policiais e civis em São Paulo. Perguntado sobre se aceitar a ajuda do governo federal mostraria a força do crime organizado no estado, o governador negou:

- Não. Temos permanentemente parcerias com o governo federal, especialmente com a Polícia Federal, com troca de informações e inteligência. Sempre disse que toda ajuda é bem-vinda. A parceria é positiva, e quem vai ganhar com isso é a população.

O comandante-geral da Polícia Militar no estado, Roberval Ferreira França, disse ontem não considerar necessário o uso de tropas do Exército para o policiamento ostensivo na capital paulista. Em conversa por telefone, Dilma ofereceu a Alckmin a adoção de um plano de ação conjunta.

- Para a realidade do estado de São Paulo, eu, como comandante da Polícia Militar, considero desnecessário. O estado de São Paulo tem hoje cem mil policiais militares, 30 mil policiais civis. Nós somos o maior contingente policial da América Latina. Há um grande volume de investimentos em segurança pública no estado - disse França, que participou de uma homenagem a policiais mortos no Cemitério do Araçá, perto da Avenida Paulista.

Ontem, subiu para 89 o número de policiais militares mortos desde o início do ano em São Paulo. De manhã, um PM foi morto em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, quando voltava de Santos dirigindo uma moto e usando uma capa por cima do uniforme. Mas, para o comandante-geral da PM, a morte teria sido consequência de uma tentativa de furto .

- Nesse caso, os dados indicam que foi um latrocínio. O policial militar foi alvejado, a moto dele foi subtraída e abandonada a alguns quilômetros à frente - disse o comandante-geral.

Além do PM, pelo menos mais quatro civis foram encontrados mortos entre a noite de quinta-feira e a manhã de ontem, segundo a Secretaria de Segurança. No bairro Jardim Arpoador, por exemplo, um jovem de 19 anos foi encontrado morto num ponto de venda de drogas.

Entre a noite de quinta-feira e às 12h de ontem, a PM prendeu também 34 pessoas em flagrante, apreendeu cinco adolescentes infratores e recapturou seis foragidos da Justiça na Operação Saturação na favela de Paraisópolis e nos bairros de Campo Limpo e Capão Redondo.