Título: Sete indiciados
Autor: Campbell, Ullisses
Fonte: Correio Braziliense, 09/10/2009, Política, p. 4

Polícia paulista pretende acusar líderes dos sem-terra por formação de quadrilha

Investigadores acusam integrantes do MST de destruir tratores, derrubar pomares e saquear colonos

São Paulo ¿ A polícia em Borebi, no interior de São Paulo, já tem o nome dos sete líderes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra que participaram da invasão à Fazenda Santo Henrique e são suspeitos de destruir plantações de laranja e maquinários. Nos próximos dias, segundo o delegado Jader Biazon, será pedida a prisão preventiva do grupo para evitar que ele saia do estado.

Para não atrapalhar as investigações, o delegado não revelou o nome dos integrantes. Ele disse que os acusados responderão pelos crimes de formação de quadrilha, furto, dano, progressão criminosa e esbulho possessório, quando ocorre retirada violenta de um bem da posse de seu dono. ¿Sabemos que o MST está se movimentando para retirar os líderes que serão indiciados do estado, mas estamos com um trabalho de inteligência que já localizou todos eles¿, ressalta Biazon.

Ontem, o delegado passou o dia ouvindo representantes da fazenda. ¿Estive lá e fiquei consternado. O que eles não puderam levar foi destruído. Não se faz reforma agrária desse jeito¿, afirma Biazon. Um gerente e dois representantes da Cutrale, empresa que responde pela fazenda, ainda prestarão depoimento. Ontem à tarde, investigadores tentavam entregar intimação para os sem-terra deporem. Dois compareceram espontaneamente.

A invasão ocorreu em 28 de setembro, quando cerca de 250 famílias do MST montaram acampamento no local. O movimento alega que a companhia está sediada irregularmente em terras da União. Os sem-terra só deixaram o local na quarta-feira após decisão judicial. Antes, teriam sido responsáveis por uma onda de destruição que resultou em prejuízo de R$ 3 milhões, segundo a empresa. No dia em que saíram da propriedade, os sem-terra argumentaram que não haviam destruído nada e que os prejuízos poderiam ter sido causados pela própria empresa para criminalizar o movimento. Ontem, procurado pelo Correio, o MST preferiu o silêncio.

Segundo o advogado da Cutrale, Pedro Kairvz Manoel, os sem-terra derrubaram 7 mil pés de laranjas que estavam com frutos ainda não maduros. Destruíram 28 tratores e roubaram até eletrodomésticos dos funcionários da fazenda, como geladeira e televisão. ¿O maior absurdo é eles atentarem contra os colonos. Alguns deles faziam parte do movimento e já foram assentados pelo governo federal¿, ressalta Manoel.

Segundo levantamento feito pela polícia, a destruição foi grande. Um trator inteiro foi desmontado, máquinas foram danificadas e havia areia no motor de outros equipamentos agrários. ¿O que mais deixa a gente intrigado é que havia geladeiras inteiras jogadas pelas plantações¿, conta o advogado da Cutrale. Eles documentaram os rastro de destruição com fotos e filmagens. O levantamento aponta ainda que 15 toneladas de fertilizantes e defensivos agrícolas usados no cultivo de laranja sumiram.

Repeteco

Essa é a terceira vez que o MST invade a Fazenda Santo Henrique. A primeira ocorreu em 2006, mas os advogados responsáveis pela propriedade conseguiram na Justiça um recurso e os sem-terra deixaram o local pacificamente. Ano passado, nova tentativa. Os agricultores montaram acampamento, mas o cumprimento de um mandado de reintegração acompanhado de força policial fez com que eles deixassem a fazenda sem atritos.

Disputa na Justiça continua

A Fazenda Santo Henrique voltou a operar normalmente ontem. Os gerentes reuniram os 300 funcionários em um mutirão para reconstruir a propriedade. Os trabalhadores retomaram a rotina logo depois que uma equipe de advogados e policiais fez um inventário do que foi danificado pelos sem-terra.

A fazenda é utilizada pela indústria Cutrale, maior produtora de sucos de laranja do mundo. A Fazenda Santo Henrique, que produz 1 milhão de caixas de laranjas por safra, é apenas uma das plantações que a empresa mantém no país. ¿Somos responsáveis por 30% de todo o suco de laranja consumido no mundo¿, ressalta Carlos Otero, diretor de relações institucionais da empresa.

Por meio de nota, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) informou que a Fazenda Santo Henrique pertence à União por integrar o antigo Núcleo Colonial Monção. Sua retomada pelo governo aguarda decisão judicial. Esse núcleo foi criado em 1909 e constituído por um grupo de fazendas, parte comprada pela União e parte recebida em pagamento de dívidas da Companhia de Colonização São Paulo/Paraná. No total, essas fazendas somavam 40 mil hectares, abrangendo parte dos municípios de Agudos, Lençóis Paulista, Borebi, Iaras e Águas de Santa Bárbara.(UC)

O número R$ 3 milhões Prejuízo estimado na Fazenda Santo Henrique