Título: Viúvas de mortos na ditadura questionam laudos oficiais
Autor: Farah, Tatiana
Fonte: O Globo, 13/11/2012, País, p. 9

Comissão da Verdade investiga mortes sob tortura, relatadas como suicídio e tiroteio

Luta árdua. A advogada Rosa Cardoso, um dos membros da Comissão Nacional da Verdade

SÃO PAULO A viúva de Luís Eurico Tejera Lisboa, morto pela ditadura em 1972, Suzana Lisboa, vai requerer na Justiça a alteração do atestado de óbito do marido. Como o jornalista Vladimir Herzog, morto em 1975, Tejera Lisboa foi assassinado, mas a necrópsia informou se tratar de suicídio. Sua morte é objeto de apuração da Comissão Nacional da Verdade (CNV) e da Comissão Estadual da Verdade de São Paulo. As duas comissões realizaram ontem a primeira audiência pública conjunta em São Paulo. No centro dos debates, as mortes de Lisboa e de Eduardo Leite, o "Bacuri", ambos militantes da Ação Libertadora Nacional (ALN).

entrave no ministério público

O pedido de alteração do documento de óbito de Lisboa esbarra num entrave criado pelo Ministério Público estadual de São Paulo em relação ao atestado de óbito de Vladimir Herzog. Reivindicada pela Comissão da Verdade, a alteração foi concedida pelo juiz Márcio Bonilha. A modificação foi comemorada pela família Herzog durante a entrega do prêmio de direitos humanos que leva o nome do jornalista, mas emperrou porque a promotora Elaine Maria Barreira Garcia ingressou com um recurso no Tribunal de Justiça. Ela quer substituir o novo texto, que informa que a morte ocorreu por "lesões e maus-tratos sofridos em dependência do 2º Exército" por "morte violenta, de causa desconhecida, em dependência do 2º Exército".

- A decisão foi até comemorada, não pensamos que haveria um recurso. No entanto, houve. É uma luta árdua - destacou a advogada Rosa Cardoso, membro da CNV.

O outro caso investigado é o de Eduardo Leite "Bacuri", preso pelo Departamento de Ordem Política e Social (Dops). A viúva de Bacuri, Denise Crispim, que também foi presa no Dops, contou que, apesar de o marido ter sido morto na prisão sob tortura, os militares afirmaram que ele morreu em tiroteio com a polícia. Soldado do Exército na época, Roberto de Assis Tavares de Almeida confirmou que Bacuri estava preso no Forte dos Andradas, no litoral, refutando a tese de morte em tiroteio.