Título: De obras de arte a violinos, país ganha mercado internacional
Autor: Oswald, Vivian
Fonte: O Globo, 18/11/2012, Economia, p. 34
Na contramão da crise, produtos não tradicionais "made in Brazil" aumentam as exportações
Apuro. Até 40 arcos de violino saem por mês da fábrica no ES para o exterior
COMÉRCIO EXTERIOR
Enquanto os conhecidos produtos exportados pelo Brasil oscilam ao sabor dos ventos ruins que sopram sobretudo dos países ricos, uma lista de itens não tradicionais fura esse bloqueio e apresenta resultados acima da média. Os brasileiros nunca venderam, por exemplo, tantas obras de arte lá fora. Os leilões confirmam o gosto pela produção made in Brazil com cotações cada vez mais altas. Ao ser vendida por US$ 2,1 milhões na noite de quarta-feira em leilão da Sotheby"s em Nova York, a tela "Meu limão", de Beatriz Milhazes, tornou-se a obra mais cara de um artista plástico brasileiro vivo.
Imune aos efeitos da crise, sozinha, uma obra deste porte tem valor equivalente a 50 contêineres com 30 toneladas de farelo de soja, por exemplo, um dos produtos mais importantes da balança comercial do país.
As exportações de arte e antiguidades bateram recorde no ano passado, somando US$ 61 milhões, marca que pode se repetir este ano. Em 2005, as vendas não passavam de US$ 10 milhões. Desde 2008, o Brasil desbancou o México no ranking de exportadores da América Latina.
- É um processo que começou há alguns anos e foi fortalecido pelo bom momento econômico do Brasil, que mostrou as oportunidades oferecidas pelo país. Quanto olharam para cá, os estrangeiros tiveram uma surpresa agradável com a qualidade da nossa produção - disse Eliana Finkelstein, sócia da galeria Vermelho e presidente da Associação Brasileira de Arte Contemporânea (Abact).
Uma das galerias mais importantes hoje do Brasil, a Vermelho, há dez anos, estava presente em apenas uma feira internacional; hoje participa de 11 por ano. Segundo Eliana, 35% das vendas já são no exterior. Os principais mercados são Inglaterra, Estados Unidos e Colômbia. Em 2005, uma obra de um jovem artista saía a cerca de R$ 6 mil, enquanto hoje está na base de R$ 30 mil.
ARCOS DE PAU-BRASIL
Segundo Monica Moraes, coordenadora do projeto da Apex-Abact para artes, a curva deste mercado é ascendente nos últimos quatros.
O país também vem se especializando em outras áreas, que, aos poucos, ganham seu lugar ao sol. Os arcos de violino brasileiros estão entre os melhores do mundo e marcam presença nas maiores orquestras internacionais.
Uma empresa artesanal e familiar, a Acapu, do Espírito Santo, exporta de 30 a 40 arcos por mês. Eles são feitos com pau-brasil pelos 16 funcionários da companhia. Uma única peça sai a US$ 3 mil ou mais.
- Os arcos feitos no exterior também são de pau-brasil. Mas os produtores compram a madeira brasileira. A gente já manda para lá feito, ou seja, com maior valor agregado - disse Estela Casaran, uma das sócias da empresa, irmã de Renato Casaran, o fundador, que começou a fazer instrumentos aos 14 anos e está sempre se atualizando na Europa.
itens de alto valor agregado
Depois de investir em alta tecnologia e se concentrar em alguns mercados, a Dabi Atlante não só driblou a crise como também tem conseguido manter uma média de crescimento nas suas exportações de aparelhos odontológicos altamente especializados em 20% ao ano. A projeção para exportações brasileiras como um todo neste ano é de queda de 5%. Desde o ano passado, a companhia exporta tomógrafos dentários para o exigente mercado americano que, em menos de 12 meses, tornou-se seu maior cliente, com 25% das suas vendas externas.
- Investimos na tecnologia. Agora, temos produtos que nos oferecem margem maior e nos dedicamos a mercados melhores também. Competimos de igual para igual com países como EUA e Alemanha - diz Caetano Biagi, presidente da empresa, que existe desde 1945 e exporta desde a década de 60.
Hoje, 10% da produção de R$ 120 milhões da Dabi é exportada. Um tomógrafo custa em média R$ 260 mil - usando a mesma comparação com o farelo de soja, seis vezes o preço de um contêiner da commodity .
Líder no mercado brasileiro de bisturis eletrônicos, a WEM Equipamentos Eletrônicos exporta seus produtos desde os anos 90 para 70 países, mas foi a partir da última década que o mercado externo passou a representar mais para as vendas da empresa. Há dois anos, representava 20% das suas receitas, hoje já alcança 25%.
De acordo com Vilma Peixeiro, gerente Comercial e de Marketing da WEM, uma caneta multifuncional usada em cirurgias de alta complexidade e desenvolvida pela empresa conseguiu obter registro no mercado americano antes mesmo que no brasileiro. Aqui, o registro saiu em outubro, por isso, só agora ela será lançada no mercado brasileiro.
O diretor-presidente da Alpargatas SA, Márcio Utsch, disse que cerca de 30% da renda da empresa vêm das vendas externas, percentual que não passava de 2% em 2005. A marca Havaianas é cada vez mais forte lá fora e já está presente em 86 países. Utsch diz que o foco da empresa mudou para os atributos emocionais do produto, não apenas para suas características:
- É o DNA do produto com jeito brasileiro de ser.