Título: Criança morre baleada no colo da mãe em São Bernardo
Autor: Falcão, Jaqueline
Fonte: O Globo, 17/11/2012, País, p. 8

Outras seis pessoas foram assassinadas em mais um dia da onda de violência em São Paulo

Tragédia sem fim. Parente chora sobre o caixão no enterro do menino Pedro Henrique

Tiago Queiroz/Agência Estado

SÃO PAULO Em mais um dia de violência, uma criança de 1 ano e 8 meses de idade e outras seis pessoas morreram baleadas na madrugada de ontem e na noite de anteontem, na região metropolitana de São Paulo. A Polícia Militar registrou ainda seis feridos a tiros. O menino Pedro Henrique Patrocínio Manga morreu no colo da mãe, dentro do carro da família, em São Bernardo do Campo, no ABC paulista. Ele foi atingido no pescoço e morreu na hora.

No momento do ataque, o casal voltava para casa pela Estrada Galvão Bueno, no bairro Battistini, em São Bernardo, após sair de um supermercado. O técnico Jurandir Luís da Silva Filho, de 20 anos, padrasto do menino, era quem dirigia o veículo, um Celta preto, quando um carro prata surgiu, e o condutor passou a piscar os faróis. Jurandir, então, parou o carro. O veículo prata voltou pela contramão, e um homem que estava no banco do passageiro passou a atirar. A dupla conseguiu fugir.

Minutos antes de matar a criança, os bandidos balearam um adolescente de 17 anos no portão de sua casa. O jovem, no entanto, está hospitalizado e não corre risco de morrer. Segundo o delegado Kazuyoshi Yamamoto, os dois crimes têm relação porque, após atirar no jovem, a dupla fugiu no veículo prata e teria pedido passagem ao carro dirigido pelo padrasto de Pedro Henrique. Como não foram atendidos, atiraram três vezes no carro de Jurandir, matando o menino.

- A certeza que já temos é que os dois crimes estão diretamente ligados. Primeiro, foi uma tentativa de homicídio contra o menor. E depois atiraram contra o carro da família. Algumas empresas na rua têm câmera de vigilância, mas, como é feriado prolongado, não conseguimos contato ainda - afirmou o delegado.

Na Zona Leste de São Paulo, o vigia Jeones Ferreira da Silva, de 47 anos, morreu após ser confundido com um PM. É que ele usava botas parecidas com as dos soldados. Ele chegou a dizer aos bandidos, segundo testemunhas, que não era PM, mas mesmo assim foi baleado na cabeça, em Guaianazes, quando voltava para casa. Ele trabalhava como auxiliar em uma escola pública, mas nas horas vagas atuava como segurança numa farmácia.

No Jardim Tietê, também na Zona Leste de São Paulo, um homem foi encontrado morto a tiros na Avenida Riacho dos Machados, na noite de quinta-feira. Na mesma região, criminosos incendiaram um ônibus na Avenida Águia de Haia, por volta das 3h de ontem.

No Tatuapé, também na Zona Leste, um homem foi baleado na cabeça. Na mesma região, um policial civil reagiu a um assalto e baleou um homem. O suspeito está internado no Hospital Tatuapé.

No Campo Limpo, na Zona Sul da capital, um homem morreu ao trocar tiros com policiais militares. Em Pirituba, na Zona Norte, duas pessoas foram baleadas em um salão de beleza e levadas ao pronto-socorro da região. O dono do salão, Juliano Barbosa do Nascimento, morreu com dez tiros. Também na Zona Oeste, um homem foi executado a tiros no Rio Pequeno.

Em Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo, um casal foi baleado por dois rapazes em uma moto. O homem levou cinco tiros e morreu enquanto era atendido por médicos. A mulher, atingida na cabeça, está internada em estado grave.

Ontem, sob forte esquema de segurança, Roberto Soriano, conhecido como Beto Tiriça, suspeito de ter ordenado ataques a PMs, foi transferido do presídio de segurança máxima de Presidente Bernardes, em São Paulo, para a penitenciária federal em Porto Velho.