Título: Onda de ataques deixa SC em alerta
Autor: Perboni, Juraci
Fonte: O Globo, 14/11/2012, País, p. 8

Ônibus e carros da PM foram incendiados e base da polícia, alvejada. Motivação é desconhecida

Especial para O GLOBO

Carcaça. O que sobrou de um ônibus incendiado em Canasvieiras, no Norte de Florianópolis: havia passageiros, mas ninguém se feriu

FLORIANÓPOLIS Uma onda de ataques a unidades policiais e incêndios a ônibus do transporte coletivo da noite de segunda-feira até a manhã de ontem assustaram os moradores da Grande Florianópolis e de Blumenau. A série de oito ataques deixou a cúpula de Segurança Pública do Estado sem explicação para os fatos. Em entrevista coletiva, o secretário da pasta, Cesar Grubba, disse que havia informações, que chegaram aos diversos órgãos policiais, de que poderia haver ataques de criminosos à polícia estadual e que, por isso, foi feito um alerta e reforçado o policiamento.

Os ataques começaram anteontem à noite, quando foram incendiados dois ônibus: um em Florianópolis e outro em Blumenau. Nenhum passageiro se feriu. Criminosos também atearam fogo numa viatura de polícia na frente da delegacia no bairro Sacos dos Limões, na capital. O carro de um policial militar foi incendiado. Houve um atentado a tiros a uma base da PM no bairro Aririú, em Palhoça, na Grande Florianópolis, e na manhã de ontem dois rapazes atiraram contra a guarita do presídio regional de Blumenau. Eles foram detidos e teriam alegado que alguém os ordenou que atirassem por terem dívidas de drogas.

- O Estado está preparado. Toda a estrutura da segurança está pronta para dar uma resposta. Vamos colocar mais policiais nas ruas. Vamos fazer escolta de linhas de ônibus do transporte coletivo. Todo o nosso aparato policial possível está de prontidão. O tempo de resposta é imediato - disse Grubba.

ajuda federal é descartada

Para ele, ainda não é necessário pedir ajuda ao governo federal para enfrentar a onda de violência no Estado. Grubba informou que foram feitas reuniões durante as quais já contaram com ajuda do serviço de inteligência da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária Federal e apoio do Exército:

- Nos primeiros ataques, já tínhamos efetivo de prontidão. Já deram a resposta e uma equipe de investigação própria foi montada para trabalhar só a questão dos ataques.

Nem Grubba nem Ada de Luca, secretária de Justiça e Cidadania; assim como o delegado geral da Polícia Civil, Aldo Pinheiro D"Ávila; e o comandante da Polícia Militar, Nazareno Marcinero, admitem que existam facções criminosas organizadas no Estado a exemplo do que acontece em São Paulo. O assunto é tratado com reserva, apesar de alguns setores de investigação policial falarem abertamente na existência no sistema prisional de uma organização de presos identificada como Primeiro Grupo Catarinense (PGC).

- Não reconhecemos nem deixamos de reconhecer. As pessoas, são 17 mil presos, organizam-se. Queremos evitar a glamourização de facções criminosas - disse o secretário.

O primeiro sinal de anormalidade surgiu no último dia 26 de outubro, quando houve o assassinato de uma agente prisional em frente à casa dela, em São José. Deise Pereira Alves era casada com Carlos Antônio Alves, diretor da penitenciária de São Pedro de Alcântara na Grande Florianópolis. Depois desse crime, começaram a ocorrer outros ataques à Polícia, mas Gruba não vê relação entre os fatos.

Grubba e os delegados presentes na entrevista coletiva realizada ontem à tarde para explicar a onda de violência não quiseram adiantar as linhas de investigação. Disseram que não descartam hipótese alguma, mas que somente após a conclusão do inquérito policial podem dizer quais foram as motivações dos crimes.

- Isso ainda é uma linha de investigação. Temos que buscar quais foram as motivações ocorridas nesta madrugada. Não temos elementos concretos para dizer quais foram - respondeu Grubba ao ser perguntado se as ações dos criminosos foram planejadas.

Segundo o secretário, o Estado pode estar sofrendo "influências externas":

- Existem ondas de violência, muitas vezes motivadas por casos em outras cidades.

Para ele, "é muita coincidência" que, 24 dias depois de o "Fantástico" exibir uma reportagem sobre incêndio a ônibus em São Paulo, a mesma ocorrência tenha se repetido em Santa Catarina.