Título: Governo barra no Senado convocação de indiciados
Autor: Krakovics, Fernanda ; Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 28/11/2012, País, p. 6

Temendo um desgaste político ainda maior e sem controle sobre o teor de eventuais depoimentos, o governo impediu ontem a aprovação de requerimentos no Senado para ouvir indiciados pela Polícia Federal na Operação Porto Seguro. Entre os blindados pela base governista estava Rosemary Noronha, ex-chefe do escritório da Presidência da República em São Paulo, próxima do ex-presidente Lula.

Foram barrados também requerimentos de convocação ou convite do ex-advogado-geral adjunto da União José Weber de Holanda e dos irmãos Paulo e Rubens Vieira, diretores afastados da Agência Nacional de Águas (ANA) e da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), respectivamente. Esses dois últimos estão presos.

Em minoria e sem apoio para aprovar as convocações, a oposição fez um acordo com os governistas e concordou em suspender a votação de requerimento que pedia para ouvir essas pessoas na Comissão de Fiscalização e Controle. Em troca, a base governista aceitou a ida ao Senado, na próxima semana, para prestar esclarecimentos, do advogado-geral da União, Luís Inácio Adams; do ministro José Eduardo Cardozo (Justiça); dos presidentes da ANA, Vicente Andreu, e da Anac, Marcelo Guaranys.

O governo derrubou ainda, por 5 a 4, requerimento para ouvir, na Comissão de Educação do Senado, o ex-consultor jurídico do Ministério da Educação Esmeraldo Malheiros Júnior, demitido depois de ser acusado de fazer parte do esquema de corrupção que teria Paulo Vieira como chefe. Votaram contra o requerimento o líder do PT, Walter Pinheiro (BA); Ana Rita (PT-ES); Inácio Arruda (PcdoB-CE); Waldemir Moka (PMDB-MS); e Antonio Carlos Valadares (PSB-SE).

— Temos que ouvir os chefes. Vamos ouvir o Cardozo, o Adams e os presidentes das agências, que vão dizer como o governo está agindo e as providências que já foram tomadas. Quem ouve indiciado é a Polícia Federal — disse o líder do PT, Walter Pinheiro, que mais cedo havia dito que o governo não blindaria nenhum suspeito.

O líder do PSDB, senador Álvaro Dias (PR), disse que vai tentar aprovar requerimentos para ouvir os indiciados pela Polícia Federal, especialmente a ex-chefe do escritório da Presidência da República em São Paulo, em outras comissões do Senado:

— Houve um sobrestamento (suspensão) porque a oposição não tem número suficiente para aprovar o requerimento (na Comissão de Fiscalização e Controle). O plano B é insistir em outras comissões, especialmente a Rosemary.

O acordo para suspender a votação do convite aos indiciados pela Polícia Federal foi feito pelo senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) com o líder do governo, senador Eduardo Braga (PMDB-AM), e o senador Jorge Viana (PT-AC).

— É melhor um na mão (Adams) do que dois voando. Para não perder tudo, optamos pelo acordo. Se fosse à votação, perderíamos — disse Randolfe.

O líder do governo negou que haja blindagem e disse que, se surgirem fatos novos, os indiciados na Operação Porto Seguro podem ser ouvidos pelo Senado. Na prática, no entanto, o Palácio do Planalto não quer nem ouvir falar nessa possibilidade.

— O requerimento ficou sobrestado (suspenso), não houve rejeição. O governo não está derrubando nenhum requerimento. O governo não tem nenhum problema de buscar esclarecimento de tudo. Se mais na frente houver necessidade, vamos avaliar os demais requerimentos — afirmou Braga.

Na Câmara, o líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), também insistiu na estratégia de ouvir os chefes dos servidores envolvidos na investigação da Polícia Federal. Disse que foi fechado um acordo para o ministro José Eduardo Cardozo prestar esclarecimentos.