Título: MST virou caso de polícia, e não é de hoje
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Fonte: Correio Braziliense, 09/10/2009, Opinião, p. 16

Passar por cima com um trator é uma das imagens de destruição mais frequentes no imaginário popular. Quando o rastro deixado para trás é uma fileira de 7 mil verdejantes pés de laranja, o sentimento de indignação contagia. O flagrante da violência reforça a esperança da sociedade brasileira de que, doravante, haverá combate aos desmandos protagonizados país afora pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Se faltava uma gota d¿água para fazer transbordar a repulsa nacional contra a entidade, ela chegou com a força de uma tempestade.

Capturada de dentro de um helicóptero por uma câmara de vídeo da Polícia Militar de São Paulo, a cena de vandalismo na Fazenda Santo Antônio, em Borebi, a 300 quilômetros da capital paulista, chocou a nação ao ser exibida pelas emissoras de tevê. Foi definida como ¿grotesca¿ até por aliado de primeira hora do MST, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel. E já motiva deputados e senadores a retomarem, uma semana depois de a bancada governista engavetar proposta semelhante, a iniciativa de instalar Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que abra a caixa-preta da organização.

O MST usurpou os poderes da Justiça ao se sentir no direito de invadir a propriedade em posse da Cutrale, maior produtora de suco de laranja do mundo, com o pretexto de que a empresa grilou terras da União. Essa é uma pendência questionada dentro da legalidade pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Caberá a um juiz federal dar a sentença. Os sem-terra atropelaram o Estado Democrático de Direito e precisam pagar por isso. Afinal, se acostumaram a afrontar os poderes constituídos graças ao histórico de impunidade que têm construído, com a complacência do Palácio do Planalto.

O governo federal não pode ser omisso nem muito menos conivente com a baderna. O presidente Luiz Lula da Silva havia se comprometido com o MST a fazer gestões pela revisão dos índices de produtividade do setor agropecuário que balizam a reforma agrária. Levada adiante, a medida põe sob ameaça a propriedade de nada menos que 400 mil produtores rurais. É hora de o Estado parar de cortejar e tratar o movimento como o ¿caso de polícia¿ em que se transformou, conforme defende o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes.

Quanto à instalação da CPI, é imprescindível que se passe a limpo as suspeitas de que baderneiros travestidos de justiceiros sociais estejam sendo bancados por dinheiro público. As denúncias são de que, sem saber, o contribuinte esteja financiando a depredação, via repasse de recursos federais a ONGs e cooperativas, bem como de que numerários vindos do exterior estejam tendo o mesmo destino sem a devida fiscalização. Na semana passada, num inacreditável gesto de submissão ao Executivo, 45 parlamentares retiraram na última hora suas assinaturas do requerimento que autorizava a instalação da CPI. Que a vergonha não se repita.