Título: Ministro compara São Paulo à Faixa de Gaza
Autor: Gama, Júnia; Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 21/11/2012, País, p. 8

Carvalho diz que se morre mais no estado do que no conflito no Oriente Médio; tucanos reagem

BRASÍLIA e são paulo O ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, comparou ontem os casos recentes de violência em São Paulo com os conflitos entre Israel e Palestina e disse que se morre mais no estado do que na Faixa de Gaza. Em entrevista após participar de evento no Palácio do Planalto, o ministro afirmou que, em um dia, há mais assassinatos em São Paulo do que em um ataque entre Israel e Palestina. Desde o início do confronto no Oriente, foram 133 mortos na Faixa de Gaza. Na Região Metropolitana de São Paulo, mais de 200 civis e quase cem policiais foram assassinados em uma onda de violência que já dura cerca de um mês.

- Eu estava vendo ontem: a gente estava alarmado com os mortos na Palestina, e as estatísticas mostram que, só na Grande São Paulo, em um dia, você tem mais gente perdida, assassinada, do que num ataque desses. Então, a gente tem que ter consciência disso - afirmou.

O ministro saudou a cooperação entre o governo federal e o de São Paulo, mas demonstrou ceticismo em relação a uma solução a curto prazo para a crise:

- A gente nunca deve vender ilusões. A gente sabe que os problemas se desenvolvem durante longo tempo, criam raiz. Depois, o combate a esses problemas nunca se dá de maneira imediata, abrupta e tão rápida quanto a gente sonharia. O que eu quero saudar, é que finalmente houve uma aceitação por parte do governo de São Paulo dessa parceria como governo federal. Todos temos que ganhar com isso, particularmente a população de São Paulo. Agora, não é um problema de fácil solução. Nós temos que ter a humildade de reconhecer a complexidade dessa questão.

Alckmin: "comparação infeliz"

Carvalho negou que a situação tenha saído do controle e afirmou que não é adequado fazer uso político da cooperação do governo federal petista com a gestão do tucano Geraldo Alckmin.

- Não pode haver neste momento tentativa alguma de utilização política ou partidária do tema. Ele é muito grave, ele é suficientemente grave para que a gente não brinque nessa hora.

O governador de São Paulo Geraldo Alckmin classificou como "infeliz" a declaração de Carvalho.

- É uma comparação tão infeliz, que não merece comentários - disse o governador durante visita a um dos pontos de operação, em parceria com o Ministério da Justiça, que visa a interceptar o transporte de armas e drogas em pontos estratégicos do estado.

O PSDB de São Paulo também reagiu: Em nota, o presidente do diretório estadual, Pedro Tobias, o partido diz que "é lamentável que o governo federal mantenha no cargo um ministro de Estado que especializou-se no ofício de degradar o cargo que ocupa para fazer politicagem eleitoral. A frase revela ignorância e má-fé".

Na Câmara, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, afirmou que o problema da violência, tortura e péssimas condições do sistema carcerário brasileiro é uma questão histórica e que é preciso enfrentá-lo, sem tapar o sol com a peneira. Cardozo afirmou ainda que o governo federal, os governos estaduais, os magistrados e os parlamentares devem assumir suas responsabilidade e encarar essa questão. Segundo o ministro, as declarações que deu na semana passada nada tem a ver com o mensalão.

- É uma questão histórica que vem de décadas. Infelizmente, o ato de se colocar sujeira para debaixo do tapete vai resolvendo no cotidiano, mas acumula sujeira e um dia ela aparece e estamos vivendo esse problema. Estamos fazendo um esforço hercúleo, mas é muito importante que não tentemos empurrar a responsabilidade para o outro. A violência que vivemos na sociedade brasileira, tristemente, quando decorrente de organizações criminosas, passa pelo problema prisional - afirmou Cardozo.

O ministro concordou ainda com a avaliação, feita pela ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário, para quem os presídios brasileiros estão em situação de emergência e que é preciso tomar atitudes para acabar com a superlotação e a prática de encarcerar, juntos, presos perigosos os condenados por crimes de pequeno grau ofensivo.