Título: Atraso e confusão no julgamento de Bruno
Autor: Fagundes, Ezequiel
Fonte: O Globo, 20/11/2012, Rio, p. 8

Advogado de ex-PM abandona a defesa. Testemunha confirma que Macarrão mandou lavar carro com díesel.

O primeiro dia de julgamento dos cinco réus do desaparecimento e morte da modelo Eliza Samudio começou com um atraso de uma hora e muita confusão. Na porta do Fórum de Contagem, em Minas Gerais, um grupo de feministas protestou contra crimes que têm mulheres como alvo, espalhando no chão dezenas de cruzes com nomes de vítimas de violência. Dentro do tribunal onde será decidido o destino do ex-goleiro do Flamengo Bruno Fernandes e dos réus Luiz Henrique Romão, conhecido como Macarrão; Marcos Aparecido dos Santos, o Bola; Dayanne Rodrigues, com quem Bruno tem duas filhas; e Fernanda Castro, ex-namorada dele - acusados de sequestro, cárcere privado, homicídio e ocultação de cadáver - o clima também foi tenso. O advogado Ércio Quarema, que defendia o ex-policial Bola, abandonou o júri.

Inconformado com o limite de 20 minutos para que as defesas apresentassem questões preliminares no julgamento do caso, Quaresma retirou a beca, recolheu suas coisas da mesa, virou as costas, e foi embora.

- A defesa não vai continuar nos trabalhos. Nós não vamos nos subjugar à aberração jurídica de impor limites onde não há - disse Quaresma.

Julgamento de Bola é adiado

A estratégia de tumultuar acabou levando ao adiamento do julgamento de Bola. O processo foi desmembrado e o ex-policial só deverá ir a júri, separadamente, daqui a dez dias. Segundo a juíza Marixa Fabiane, que preside o júri, o ex-policial não aceitou ser atendido por um defensor público.

O advogado Leonardo Diniz, que representa Macarrão, também ameaçou abandonar o plenário, mas depois voltou atrás, dizendo que o réu merecia uma defesa. Macarrão foi ao Fórum, mas foi retirado do tribunal à tarde. Ele alegou indisposição e foi levado de volta para o presídio de Contagem.

Bruno é acusado de ter mandado matar Eliza, sua ex-amante, para não ter que reconhecer o filho que teve com ela, nem pagar pensão alimentícia. Conforme a denúncia, Eliza foi levada à força do Rio para um sítio do goleiro, em Esmeraldas (MG), onde foi mantida em cárcere privado.

Depois, a vítima foi entregue para Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, que a teria asfixiado e desaparecido com o corpo, nunca encontrado. A polícia investiga se o corpo de Eliza teria sido comido por rottweilers no canil do quintal da casa do ex-policial. Ontem, amigos de Bola apareceram no Fórum usando camisetas com uma foto do réu e imagens de cachorros da mesma raça.

Seis mulheres e um homem foram escolhidos como jurados do caso, no qual todos os réus negam ter cometido crimes. Ontem, o primeiro depoimento foi de Cleiton Gonçalves, ex-motorista do goleiro Bruno. Ele foi arrolado pela acusação, feita pelo promotor Henry Castro, e confirmou à juíza que ouviu de Sérgio Rosa Sales, primo do goleiro, que "Eliza já era". A declaração, segundo a testemunha, foi dada em 10 de junho de 2010, data apontada como dia da execução da modelo.

Durante o depoimento, Cleiton confirmou a ordem de Luiz Henrique Romão, o Macarrão, de lavar com óleo diesel a Land Rover do jogador, onde Eliza teria sido transportada e agredida. A perícia encontrou marcas de sangue no veículo.

- O depoimento foi importantíssimo para a acusação. Aquele veículo já havia passado por uma lavagem na água e as manchas de sangue não saíram. Por qual motivo uma pessoa pode querer lavar seu carro com óleo diesel? - indagou o promotor.