Título: Nova realidade aumenta incerteza no Oriente Médio
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Fonte: O Globo, 20/11/2012, Opinião, p. 14
O mundo está na expectativa angustiante de uma ação violenta como seria a invasão terrestre da Faixa de Gaza por Israel, enquanto observa a intensa movimentação diplomática para evitar que isso aconteça. Apostar no radicalismo é uma constante do movimento islâmico palestino Hamas, que controla Gaza. No atual conflito, ele aumentou seu prestígio ao atingir Tel Aviv e as cercanias de Jerusalém (sem fazer vítimas - três israelenses foram mortos por um foguete em outra cidade). Com os ataques, o Hamas colheu manifestações de apoio na Cisjordânia, governada pelo moderado Mahmoud Abbas.
A resposta israelense, como sempre nesses casos, é extremamente violenta. As mortes entre os palestinos já estavam ontem, no sexto dia, em uma centena (metade civis), sendo o destaque negativo o bombardeio à casa da família al-Dallu, na Cidade de Gaza, matando 12 de seus integrantes, o que levou o premier turco, Recep Erdogan, a chamar Israel de "Estado terrorista".
Estão certos os países amigos de Israel quando dizem que ele tem todo o direito de se defender da chuva de foguetes que radicais islâmicos disparam de Gaza contra seu território, matando e ferindo civis. Mas o premier Benjamin Netanyahu não ajuda a causa da paz quando insiste em expandir os assentamentos judaicos em território palestino, o que equivale a ampliar a ocupação e dar argumentos aos que apostam no caos.
O novo conflito ocorre num momento muito delicado para o mundo árabe, que, após a Primavera Árabe, tenta se equilibrar entre o fim de ditaduras asfixiantes, a criação de novas instituições - democráticas, se possível - e a ascensão de tendências islâmicas há décadas reprimidas. De certa forma, a ousadia do Hamas de atacar duramente o Estado judeu é um teste para a nova correlação de forças. Um país em particular, o Egito, está no centro das atenções. Um dos pilares do status quo anterior à Primavera Árabe, ele hoje é governado por Mohamed Mursi, da Irmandade Muçulmana, a maior organização islamita do país.
Mursi despachou seu premier para uma visita de solidariedade à Faixa de Gaza e disse que "o Egito de hoje não é mais o de ontem", referindo-se à ditadura Mubarak, de linha dura com os palestinos. Mas o presidente egípcio esforça-se para obter uma trégua, e o Cairo se transformou em palco de intensa atividade diplomática, com o Egito e a ONU intermediando os contatos com representantes de Hamas e Israel. O governo israelense, por sua vez, faz cálculos sobre o impacto da invasão terrestre de Gaza no pleito de janeiro, em que Netanyahu buscará a reeleição.
Se, desta vez, a diplomacia levar a melhor e a invasão for evitada, há esperança de que os canais de entendimento permaneçam abertos para frustrar futuras crises e, quem sabe, abrir caminho ao reinício das negociações entre israelenses e palestinos, paralisadas desde 2010.