Título: Ação da Eletrobras cai 15%
Autor: Haidar, Daniel
Fonte: O Globo, 20/11/2012, Economia, p. 17

Estatal registrou o maior recuo em 15 anos, e já perdeu o equivalente a uma CSN em valor.

A ação da Eletrobras registrou ontem a maior perda diária dos últimos 15 anos na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), em mais uma demonstração de insatisfação dos investidores em relação às novas regras do setor elétrico impostas pelo governo. O consenso no mercado de que a estatal não deverá pagar dividendos aos acionistas em 2013 derrubou as ações preferenciais (PN, sem direito a voto), em um tombo de 15,43%, a R$ 9,81 - em 27 de outubro de 1997, por causa da crise asiática, caiu 17,36%. O papel chegou ontem no menor nível desde 29 de agosto de 2005. Já a ação ordinária (ON, com direito a voto) despencou 13,41%, a R$ 8,01, o maior recuo em quatro anos, para o mais baixo patamar desde 26 de maio de 2004 (R$ 7,64).

A Eletrobras perdeu R$ 1,8 bilhão em valor de mercado somente ontem e já assistiu ao desaparecimento de R$ 7,9 bilhões (valor próximo ao de uma empresa como a Hering) desde 11 de setembro, quando foi publicada a Medida Provisória 579, que traz as regras de renovação das concessões do setor elétrico. Ao longo deste ano, sumiram R$ 15,2 bilhões em valor de mercado da estatal- o equivalente a pouco mais que uma CSN. Desde 28 de agosto, a empresa já perdeu metade do valor de mercado que detinha, sendo avaliada atualmente em R$ 11,3 bilhões.

As ações caíram tanto ontem que tiveram de ser negociadas em sistema de leilão, que durou de 16h02m a 16h14m, para proteger os investidores de oscilações bruscas. Segundo a Bovespa, esse tipo de negociação foi realizado porque a ação "atingiu o limite intradiário de 10% de oscilação". Nesse sistema, o pregão do papel é interrompido e ele volta a ser negociado pelo preço de abertura. São colhidas, então, as ofertas e só são efetivadas transações após o término do leilão, pelo valor com a maior quantidade de lances.

Embora analistas de mercado já cogitassem que a Eletrobras poderia registrar prejuízo em 2013 com tarifas menores (como determina a MP), ontem o diretor de relações com investidores e diretor financeiro, Armando Casado de Araújo, confirmou a hipótese do não pagamento de dividendos, o principal atrativo para quem investe no setor. A empresa espera uma geração de caixa nula no ano que vem, pelo chamado Lucro Antes dos Juros, Impostos, Depreciação e Amortização (Lajida ou Ebitda, na sigla em inglês). Na sexta-feira, quando as ações PN tombaram 11,52%, a companhia tinha divulgado que perderia R$ 8,7 bilhões em faturamento por ano com as novas tarifas.

- Ficou mais claro que dificilmente vão ter dividendos pagos na Eletrobras nos próximos anos. Não existe um compromisso claro de redução de custos. Nas minhas contas, faria mais sentido não renovar as concessões - afirmou o analista Marcelo Ganem, sócio da Oceana Investimentos.

Em relatório, o banco britânico Barclays rebaixou o preço-alvo da ação preferencial de R$ 29 para R$ 1. Com esse movimento, os analistas expressam que o papel tem potencial de atingir R$ 1 daqui a 12 meses. A visão negativa, que teve forte repercussão no mercado, é justificada pela queda estimada de 30% no faturamento das principais subsidiárias do grupo em 2013 e pela "falta de dividendos em futuro visível".

- Ninguém acha que as ações da Eletrobras realmente vão cair 90% nos próximos meses. Mas esse valor de R$ 1 carrega um conteúdo simbólico. E o banco teve a coragem de publicar isso - afirma um analista que pediu para não ser identificado, referindo-se à ingerência política do governo.

Alguns esclarecimentos prestados pela direção da Eletrobras para justificar a renovação das concessões foram considerados insatisfatórios e contraditórios pelos analistas. Um deles foi a indicação de que ainda não sabe qual será a perda no valor das concessões que vencem após 2017 e não são afetadas pela medida provisória.

A renovação dos contratos de concessão de geração e transmissão de energia, além de representar prejuízos para o grupo Eletrobras, poderá não ter muito efeito prático na redução das tarifas para as indústrias. O alerta é do presidente da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace), Paulo Pedrosa:

- Estamos muito preocupados. Como as indústrias que mais consomem energia, cerca de 59%, compram no mercado livre, a redução nas tarifas será entre 9% e 16%. Mas, se os preços no mercado livre aumentarem, a redução poderá ser anulada.

Para o Ibovespa, principal índice da Bovespa, o dia foi positivo, no rastro do otimismo internacional. Após dois dias de perdas, fechou em alta de 1,89%, aos 56.450 pontos, com volume de R$ 7,8 bilhões, inflado pelo vencimento de opções, que girou R$ 2,59 bilhões.

Entre os papéis mais negociados, Vale PNA teve alta de 1,21%, a R$ 35,07, enquanto Petrobras PN subiu 0,53%, a R$ 19,13, e OGX Petróleo ON avançou 7,47%, a R$ 4,89. Em Wall Street, o Dow Jones avançou 1,65%, S&P 500 ganhou 1,99% e Nasdaq disparou 2,21%.