Título: Do hino aos convidados, a marca do novo presidente na cerimônia
Autor: Éboli, Evandro; Souza, André de
Fonte: O Globo, 23/11/2012, País, p. 4

Martinho da Vila: demorou para um negro chegar ao comando do STF.

Ao som do Hino Nacional tocado pelo bandolim do músico brasiliense Hamilton de Holanda, a solenidade de posse do ministro Joaquim Barbosa na presidência do Supremo saiu do script tradicional. Onde normalmente só se vê autoridades do meio jurídico, ontem artistas e personalidades e também políticos foram prestigiar Joaquim.

Pouco antes de entrar no plenário, o ministro passou um susto. Tropeçou e foi ao chão. O novo vice-presidente Ricardo Lewandowski, muitas vezes adversário de Joaquim no mensalão, foi quem estendeu a mão e ajudou o colega se levantar. Poucos viram a cena.

Entre os convidados, só elogios ao empossado. Para todos, foi um dia histórico. Estiveram no STF os atores Milton Gonçalves, Lázaro Ramos e Regina Casé, e os cantores e compositores Martinho da Vila e Djavan. Cantora que fez sucesso na década de 1970, Eliana Pittman também esteve na solenidade, assim como Nelson Piquet, tricampeão da Fórmula-1, e o ex-jogador Romário, hoje deputado federal.

"ele está lá por mérito"

Djavan foi o mais paparicado e o principal alvo da tietagem. Solícito, deu várias entrevistas, dezenas de autógrafos e atendeu pedidos de fotos. Mas o cantor também foi tiete.

- Eu queria chegar perto dele (Joaquim) e por isso estou aqui. Acho que o Brasil está vivendo um momento de glória com o Joaquim na presidência do STF. É um homem consciente, ligado nas necessidades do Brasil - disse Djavan.

Milton Gonçalves fez questão de destacar que Joaquim chegou ao comando do STF por mérito, e não por ser negro:

- Joaquim Barbosa tem que ser lembrando pela capacidade, pelo raciocínio, por aquilo que ele empregou na juventude, na adolescência para se tornar um homem dessa importância. Óbvio que, como negro, sou copartícipe, sou parceiro dele, mas ele está lá por mérito, por mérito, só isso.

Martinho da Vila disse que demorou para um negro chegar à presidência do Supremo:

- Já devia ter acontecido há muitos anos. Finalmente aconteceu.

Piquet afirmou ser amigo de Joaquim. Não é raro encontrá-lo em sessões do STF:

- Mas sempre que venho aqui é só pelo Joaquim. Sou amigo dele.

A atriz Regina Casé contou que conheceu Joaquim na casa de Lázaro Ramos, e que até pediu uma entrevista ao novo presidente do tribunal. Mas Joaquim pediu a ela que esperasse a posse acontecer.

- Ele é um símbolo para o público. A gente teria muito o que conversar. Acho que a posse do ministro Joaquim enche a gente de esperança e mostra que o melhor caminho para a Justiça é a educação. A educação coloca as pessoas no seu lugar de merecimento. É preciso ter igualdade de acesso à educação para todos - disse a Regina Casé.

Eliana Pittman salientou se tratar de um dia histórico:

- É um momento que vai entrar para a história. Querem que eu cante para ele hoje à noite (ontem, no coquetel). Se acontecer, espero que ele goste - disse a cantora, que gostaria de entoar "Carinhoso", música de Pixinguinha e Braguinha.

Romário enalteceu o fato de um negro chegar neste posto:

- Eu também, como negro, fico feliz de saber que temos uma pessoa competente, trabalhadora, objetiva, honesta, séria vai assumir o maior cargo do país no Poder Judiciário.

Alckmin: "Juiz corajoso"

O ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos disse que Joaquim terá sucesso na presidência do Supremo. Para ele, o ministro é culto e devidamente preparado para o cargo. Os governadores de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e da Bahia, Jaques Wagner (PT) também partilharam do mesmo otimismo em relação a gestão do novo presidente. Os governadores do Distrito Federal Agnelo Queiroz (PT) e de Minas Gerais, Antonio Anastasia (PSDB), também participaram das homenagens a Joaquim.

- Acho que ele vai ser um sucesso. É um homem culto, preparado, tem experiência. Já mostrou na sessão de ontem (quarta-feira) que a cadeira da presidência influi na condução (das sessões) - disse Bastos.

Alckmin disse que gostou do discurso do presidente, curto e direto, como tem sido durante as sessões. Para ele, o presidente mandou um recado importante ao falar sobre celeridade no andamento dos processos e na proximidade do Judiciário com as aspirações do país.

- Ele mostrou que é um juiz corajoso, sério, independente. Acho que é disso que o Brasil precisa - disse Alckmin.

Para Jaques Wagner, a chegada de Barbosa à presidência do STF é altamente simbólica.

- Para mim, que sou governador de um estado com ampla margem de afrodescendentes, simboliza uma conquista. É um marco um negro chegar à presidência do Supremo, por sua história de vida, de luta.