Título: Entidades veem indiciamentos como represália
Autor: Farah, Tatiana
Fonte: O Globo, 23/11/2012, País, p. 10

Relatório de Odair Cunha exclui depoimentos de investigadores em favor de jornalista da "Veja".

Uma tentativa canhestra de represália. Esta é a opinião do diretor executivo da Transparência Brasil, Cláudio Weber Abramo, sobre a iniciativa do deputado Odair Cunha (PT-MG), relator da CPI do Cachoeira, de pedir o indiciamento do jornalista Policarpo Júnior, da revista "Veja". Para Abramo, especialista no tema da corrupção, o pedido é uma "maluquice" que não será respaldada no Congresso.

- Quando se vê um ato desses, sem nenhum fundamento, as portas se abrem a especulações. Parece haver um tom de vingança, de represália. Os depoimentos dos investigadores, dos delegados, afirmam que as gravações de Policarpo (com o bicheiro Carlos Cachoeira) não passam de conversas entre fonte e repórter - disse Abramo.

O diretor executivo da Associação Nacional dos Jornais (ANJ), Ricardo Pedreira, afirmou que a entidade vai esperar a votação do relatório na CPI para se manifestar, mas ponderou:

- É importante que haja uma compreensão de que o trabalho jornalístico envolve investigação, ouvir diversas fontes, e que não se pode criminalizar esse tipo de atividade.

A revista "Veja", em nota de esclarecimento, afirmou que o deputado Odair Cunha cede "às pressões da ala radical de seu partido, que, desde a concepção da CPI, objetivava atingir a credibilidade da imprensa livre por seus profissionais terem tido um papel crucial na revelação do escândalo do mensalão".

Para a revista, Cunha usou de "expedientes condenáveis" e omitiu depoimentos de delegados do caso, encarregados da investigação. "Todos eles, sem exceção, foram enfáticos em descrever as conversas do jornalista de Veja com Carlos Cachoeira como relação entre repórter e fonte".

O presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Marcelo Moreira, afirmou que a entidade quer esperar o resultado das investigações antes de uma manifestação oficial, mas fez uma consideração:

- Nós defendemos o livre exercício do jornalismo investigativo, que tem de ser praticado com ética e precisão.

O presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Celso Schröder, afirmou que um eventual indiciamento de um jornalista "não implica agressão à liberdade de imprensa, desde que seja feito do ponto de vista da responsabilidade criminal".

- Ainda não tivemos acesso ao relatório para saber qual é a base da acusação. Nas gravações, vejo uma relação promíscua entre fonte e repórter, mas não um crime - disse Schröder.