Título: Macarrão afirma que Bruno é o culpado pelo sumiço de Eliza
Autor: Fagundes, Ezequiel
Fonte: O Globo, 23/11/2012, Rio, p. 20

Em depoimento, ele disse que ainda tentou dissuadir o ex-goleiro mas que não foi ouvido.

Luiz Henrique Romão, o Macarrão, afirmou diante do Tribunal do Júri que o ex-goleiro do Flamengo Bruno Fernandes é o culpado pelo sumiço da modelo Eliza Samudio, ex-amante do jogador. Em depoimento que começou na noite de quarta-feira e só terminou por volta das 4h de ontem, Macarrão complicou a situação do goleiro, que é acusado de ser o mandante da morte da modelo. Segundo o réu, o silêncio nos últimos dois anos só beneficiou o amigo de infância. Ontem à tarde, Fernanda Gomes, ex-namorada de Bruno que está sendo acusada de sequestro e cárcere privado de Eliza e do filho dela com o atleta, também prestou depoimento. Ela se declarou inocente e confirmou boa parte do que disse o amigo do ex-goleiro.

O interrogatório de Luiz Henrique Romão começou por volta das 23h. A todo momento, ele deixava claro que foi Bruno o responsável pela morte da modelo. O réu afirmou que, a pedido do goleiro, levou Eliza até a Toca da Raposa, Centro de Treinamento do Cruzeiro, na região da Pampulha. Lá, de acordo com ele, Eliza teria entrado em um Palio preto e, desde então, não foi mais vista.

- Percebi que o clima estava estranho. Pressenti que ela (Eliza) ia ser levada para morrer. Falei com o Bruno: cara, deixa ela em paz. Se qualquer coisa acontecer, as pessoas vão colocar a culpa em mim. A corda arrebenta no lado mais fraco. Sua família vai dizer que eu acabei com sua vida, com sua carreira - declarou.

Segundo Macarrão, Bruno respondeu, batendo no peito: "Deixa comigo. Aqui é o Bruno."

- Guardei isso por dois anos. Não sou monstro, não sou traficante. Foi ele quem acabou com minha vida. Virei X-9, um arquivo vivo. Não quero perder minha mãe, meus filhos. Pedi para ele de coração: "Não faz isso, irmão. Deixa isso para lá". Sou um cara tranquilo. Trabalhava na Ceasa como puxador de carrinho. Nunca fui um cara ruim, nunca encostei na minha esposa. Hoje temo pela minha vida -disse ele.

A revelação é mais uma reviravolta no julgamento, marcado pelas tentativas protelatórias da defesa. Antes do depoimento, havia uma expectativa, por parte do Ministério Público (MP), de que Macarrão pudesse confessar o crime para tentar livrar Bruno, cujo julgamento foi adiado para março. Foi a primeira vez que o réu, acusado de sequestro, cárcere privado, homicídio qualificado e ocultação de cadáver, falou em juízo sobre o desaparecimento de Eliza.

- Nossa amizade acabou aqui. Tenho medo do Bruno - afirmou.

No quarto dia, boatos de suicídio

Ontem, alegando cansaço dos jurados, a juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues decidiu encerrar o quarto dia de julgamento no fim do depoimento de Fernanda Gomes para retomá-lo hoje, às 9h, no Fórum de Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. O depoimento, que começou por volta das 14h30m, chegou a ser interrompido por um tumulto na porta do Fórum. A confusão começou quando um dos advogados do jogador, Luiz Adolfo da Silva, declarou que o goleiro Bruno Fernandes teria sido encontrado morto na penitenciária.

- Recebemos a informação de que o Bruno tinha morrido. Mas as autoridades do estado já disseram que está tudo bem. Foi só um boato - disse o advogado.

A versão que circulou foi a de que Bruno havia cometido suicídio, o que foi desmentido.

Fernanda, por sua vez, afirmou à juíza que não viu Eliza na casa do goleiro, no Recreio dos Bandeirantes. A jovem negou ainda que a modelo tenha ficado em cárcere privado.

- Fiquei com medo de entrar no quarto, porque ela já havia procurado a mídia e eu não queria ver meu nome envolvido nisso - afirmou.

Os defensores de Bruno visitaram o atleta ontem na penitenciária. Segundo eles, Bruno reagiu "com tristeza" às declarações do amigo.

- Ele entendeu que Macarrão está pressionado. Ficou chateado, decepcionado pela amizade que existia entre os dois - disse Silva.