Título: Só 55% das crianças de quatro anos estão na escola
Autor: Carneiro, Lucianne; Almeida, Cássia
Fonte: O Globo, 29/11/2012, Economia, p. 30

Taxa é de 80% na OCDE. Falta de creches dificulta ingresso de mulheres no mercado de trabalho

Retratos do brasil

Apesar do avanço no acesso à creche no Brasil, o país ainda tem apenas 55,2% de suas crianças de 4 anos matriculadas em algum estabelecimento de ensino, taxa que é a sexta pior numa comparação com 34 países. No México, a cobertura escolar nessa faixa etária é de 99% e no Chile, de 75%. A média dos países da OCDE fica em torno de 80%.

Com as crianças fora da rede de ensino, fica mais difícil a inserção das mulheres no mercado de trabalho, mostrou a Síntese de Indicadores Sociais do IBGE. Das mães que têm filhos até três anos frequentando creche, 71,7% estão trabalhando. Se nenhum filho nessa faixa etária está matriculado, a taxa cai para 43,9%. Se algum filho frequenta a creche, mas não todos os que têm menos de três anos, a participação no mercado de trabalho também é baixa: 43,4%.

Clara Araújo, professora de pós-graduação em Ciências Sociais da Uerj e pesquisadora das questões de gênero, diz que essa correlação torna evidente a importância da oferta de creches:

- O trabalho feminino ainda é marcado pela precariedade e informalidade ou em tempo parcial, por causa da responsabilidade única do cuidado com os filhos. Até cresce a participação dos pais na tarefa, mas ainda é uma atividade predominantemente feminina. Se alguém tem que trabalhar menos para cuidar do filho, essa pessoa será a mulher. A proporção de crianças nessa faixa etária alcançadas por creche ainda é muito pequena.

Entre as crianças de até três anos, 20,8% delas frequentavam instituições de ensino em 2011, o dobro das 10,6% de 2001. Na faixa etária de quatro a cinco anos, a taxa subiu de 55% para 77,4%.

jornada dupla

Amanda Teles, de 30 anos, é uma das mulheres fora do mercado de trabalho para cuidar do filho, Vicente, de três anos. Sem dinheiro para colocar o menino numa creche particular, não tem com quem deixá-lo.

- Minha mãe já cuida de outra neta e seria muito pesado ficar com duas crianças pequenas e o pai dela, doente aos 86 anos. Então, resolvi ficar em casa - afirma ela.

Amanda chegou a procurar creches públicas em Laranjeiras, onde mora, mas a maioria era para crianças acima de três anos e outras exigiam como critério para matrícula um rendimento familiar mais baixo.

Em 2011, havia 48.642 creches para 10,5 milhões de crianças até três anos, das quais 20.048 (ou 41,2%) eram privadas e 28.594 (58,7%), públicas.

O levantamento do IBGE também mostra o tempo menor da mulher no trabalho remunerado. Os homens trabalham em média 6,3 horas a mais que as mulheres. Porém, quando se somam os afazeres domésticos, essa jornada feminina é 6,8 horas maior que a dos homens. Enquanto os homens trabalham 52,7 horas por semana, considerando o trabalho remunerado e os afazeres domésticos, as mulheres têm jornada de 58,5 horas.

Para a socióloga Ana Saboia, coordenadora geral da Síntese de Indicadores Sociais, as políticas públicas estão no caminho certo. No programa Brasil Carinhoso, a meta é construir 6 mil creches até 2014.