Título: BC interrompe o ciclo de queda nos juros
Autor: Bonfanti, Cristiane; Justus, Paulo;
Fonte: O Globo, 29/11/2012, Economia, p. 37

Copom mantém Selic em 7,25% e sinaliza que tão cedo não haverá outro corte, citando a inflação

O Comitê de Política Monetária (Copom) interrompeu ontem, na última reunião do ano, o ciclo de cortes de juros e manteve a taxa básica em 7,25% ao ano. Com a decisão unânime, a Selic permanece no menor patamar de todos os tempos, como previam os economistas. A mudança veio depois de dez quedas consecutivas da taxa, que em agosto do ano passado estava em 12,5% ao ano.

O colegiado deu sinais claros de que não fará novo corte tão cedo. Em nota, informou que, considerando o balanço de riscos para a inflação, a recuperação da atividade doméstica e a complexidade que envolve o ambiente internacional, "entende que a estabilidade das condições monetárias por um período de tempo suficientemente prolongado é a estratégia mais adequada para garantir a convergência da inflação para a meta, ainda de forma não linear".

No último corte, em outubro, de 0,25 ponto percentual, os diretores ficaram divididos: cinco pela redução e três pela manutenção, devido ao aumento recente dos preços de bens e serviços. Na visão de analistas, na ocasião, o Banco Central (BC) já havia indicado que o ciclo de queda de juros tinha terminado.

Para o governo, os estímulos ao crescimento começaram a surtir efeito no nível de atividade no país, o que deve se refletir nos resultados do Produto Interno Bruto (PIB, soma dos bens e serviços produzidos no país) do terceiro e quarto trimestres. Ao lado dos incentivos fiscais, juros baixos contribuirão para retomada da atividade econômica em 2013, avaliou o economista Homero Guizzo, da LCA Consultores. Ele projeta que, em 2013, o PIB cresça 4,5%.

- Não é um desempenho espetacular, mas dificilmente vamos ver um avanço tão alto, perto de 7%. As maiores taxas vieram de uma base de comparação deprimida - afirmou.

- Os juros baixos não chegaram a ser sentidos na atividade econômica como deveriam. O canal de crédito está entupido por causa da inadimplência elevada e o conservadorismo dos bancos para emprestar - avalia Solange Srour, economista-chefe da BNY Mellon ARX.

A expectativa da LCA é que a taxa fique estável em 7,25% até outubro do ano que vem, com um novo ciclo e alta começando em novembro, com elevação de 0,50 ponto percentual. Até maio de 2014, a Selic deve subir para 9% e permanecer nesse patamar até o fim do ano, segundo essa estimativa. A consultoria também prevê que a inflação continuará persistente em 2013. Se, por um lado, a queda no preço de energia vai conter o índice, por outro, haverá aumento no preço dos combustíveis.

- A inflação deverá ficar entre 5,3% e 5,5% no que vem. Este ano, deverá fechar em 5,4%. Tivemos fatores como uma quebra atípica na safra agrícola.

Para a economista Zeina Latif, sócia da Gibraltar Consulting, o Banco Central está diante de um grande dilema. Embora a atividade econômica esteja em desaceleração, com perspectiva de crescer 1,5% este ano, quando se analisa cada setor, o comportamento é diferente. Enquanto o varejo vai muito bem, a indústria apresenta resultados negativos e não realiza investimentos.

- O certo é realmente não aumentar os juros, para não colocar um peso sobre o Banco Central no ano que vem. Então, além de manter os juros baixos, o ideal é investir em outras políticas econômicas, por exemplo, no crédito a bancos públicos, e não estimular mais ainda o consumo - analisou.

O diretor de Investimentos da Lecca, Samy Balassiano, espera uma retomada no ciclo de alta a partir do segundo semestre de 2013, com dois aumentos seguidos de 0,25 ponto. Na sua avaliação, haverá melhora no cenário.

- O problema é que, na realidade, é uma retomada de consumo, não de investimentos. A expectativa é que o mundo lá fora fique mais calmo, com os Estados Unidos fazendo seu dever de casa, e haja uma demanda maior. A partir desse momento, no entanto, a inflação vai começar a mostrar sua cara - observou Lafit, que projeta inflação no fim deste ano por volta de 5,4% e, em 2013, acima de 5,5%.

País agora é terceiro em juros reais

Com a decisão anunciada ontem pelo Copom, o Brasil subiu uma posição no ranking de maiores pagadores de juros reais no mundo. O levantamento, divulgado pelos economistas Jason Vieira e Thiago Davino, colocou o Brasil em terceiro lugar, com uma taxa de 1,8% (descontada a inflação projetada para os próximos 12 meses), atrás de China e Chile. Na edição anterior, o país estava em quarto lugar, com 1,9%.

- Embora os juros não tenham sido alterados nos principais países analisados, houve uma mudança na expectativa futura de inflação. No caso do Brasil, a subida de posição se deveu a uma expectativa de inflação mais alta na Austrália, que ocupava a terceira posição no ranking anterior - disse Vieira.

Trabalhadores e indústria fizeram coro defendendo a volta dos cortes dos juros para estimular investimentos, caso da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e da Força Sindical. Já a Fecomercio/SP considerou a decisão do Copom correta, diante da inflação acima da meta, de 4,5%.

Enquanto isso, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) acompanhou o mercado externo, no qual pesou a expectativa de um acordo próximo para evitar o chamado abismo fiscal nos Estados Unidos, que prevê alta de impostos e corte de gastos automáticos em 2013. O Ibovespa, índice de referência brasileiro, fechou em alta de 0,52%, aos 56.539 pontos. O dólar comercial avançou 0,48%, a R$ 2,090. Em Nova York, o Dow Jones fechou em alta de 0,83%, enquanto S&P e Nasdaq subiram 0,79% e 0,81%, respectivamente.