Título: Espanha defenderá incentivos ao crescimento na cúpula de Cádiz
Autor: Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 16/11/2012, Economia, p. 20

"Só austeridade não resolve o problema", diz chanceler espanhol

Correspondente na Europa

Sob vigília. Policiais fazem a segurança do Palácio de Cádiz, onde será a Cúpula Ibero-americana: Brasil em destaque

Jorge Guerrero/AFP

sem trégua na crise

CÁDIZ (Espanha) No momento em que a zona do euro mergulha pela segunda vez na recessão, em pouco mais de três anos, 19 países latino-americanos e três europeus da Península Ibérica em crise - Espanha, Portugal e Andorra - vão se reunir a partir de hoje em Cádiz, cidade histórica no sul da Espanha. A crise vai dominar os debates. E a mensagem dos líderes, na Cúpula Ibero-americana, se depender da Espanha, será esta: só austeridade não vai tirar a Europa do buraco.

- Creio que vamos declarar que austeridade é necessária, mas que só austeridade não resolve o problema. Tem que ter mecanismos de crescimento - disse o ministro das Relações Exteriores espanhol, José Manuel Garcia Margallo.

A presidente Dilma Rousseff, que desembarcou ontem à noite em Cádiz, desde que assumiu o poder, insiste: o que a Europa precisa não é de austeridade, mas sim de estímulos para crescer.

"Brasil é o país do presente"

Embora seja tema dominante, a palavra crise não vai constar de nenhuma linha da declaração política do encontro, que vai falar em "relação renovada" entre a América Latina e os países ibéricos e insistir nos pontos de sempre: comércio e investimento, ciência e tecnologia, inovação e infraestrutura.

Com a Espanha de joelhos economicamente por causa da crise e tomada por violentos protestos nas ruas, o encontro de Cádiz vai abrir também sob um prisma novo: espanhóis, que sempre lideraram o grupo, deixam de ser o centro das atenções. Uma mudança que a Espanha não assume oficialmente, mas que a diplomacia brasileira diz abertamente nos bastidores:

- O sistema iberoamericano, que sempre teve a Espanha como centro, está se diluindo. Há uma nova relação de poder. O foco desse encontro mudou - disse um diplomata.

Isso ficou evidente num encontro empresarial ontem, por ocasião da cúpula. Luis Velo, diretor de conteúdo do grupo Telefónica, disse que os resultados da empresa já mostram que a principal receita virá da América Latina.

- A crise tende a acelerar nossa presença nestes países - afirmou Velo.

Juan Luis Cebrián, presidente-executivo do grupo Prisa - dono do jornal "El País" e de emissoras de TV e rádio espanholas - diz que a saída do conglomerado vai ser internacionalizar suas atividades.

Quando jornalistas perguntaram ao ministro espanhol se o Brasil era uma tábua de salvação para empresas espanholas, ele respondeu :

- O Brasil é uma oportunidade gigantesca. Não é o país do futuro: é o país do presente. Vai ter que fazer um enorme esforço em matéria de infraestrutura e nossas empresas são líderes nos setores que o Brasil quer investir.

A cúpula tem seis ausentes confirmados: os líderes da Argentina, Cristina Kirchner; da Venezuela, Hugo Chávez; de Cuba, Raúl Castro; da Guatemala, Otto Pérez Molina, e do Uruguai, José Pepe Mujica. O presidente do Paraguai, Federico Franco, também não virá, poupando a todos de um constrangimento: seu poder não é reconhecido por vários países, inclusive o Brasil.