Título: Europa afunda, de novo
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Fonte: O Globo, 16/11/2012, Economia, p. 19

PIB da zona do euro cai 0,1% e região sofre a segunda recessão em menos de três anos sem trégua na crise

BRUXELAS e BERLIM A economia da zona do euro encolheu pelo segundo trimestre consecutivo empurrando o bloco oficialmente para a recessão. A queda no Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos) da zona do euro foi de 0,1% entre julho e setembro, na comparação com os três meses anteriores. No segundo trimestre, o PIB dos 17 países havia encolhido 0,2%. Foi a segunda recessão (dois trimestres seguidos de queda do PIB) da zona do euro desde 2009, quando eclodiu a crise da dívida no continente. As medidas de austeridade tomadas pelos governos parecem ter gerado uma contração geral, não compensada pelo crescimento de grandes economias do bloco, como Alemanha e França - ambas expandiram-se modesto 0,2% no terceiro trimestre, segundo informaram ontem seus institutos nacionais de estatística.

Os dados divulgados ontem pelo escritório europeu de estatísticas (Eurostat) são, no entanto, um pouco melhores do que a estimativa de analistas. Segundo o jornal espanhol "El País", esperava-se retração de 0,2%. A queda em relação ao terceiro trimestre de 2011 foi de 0,6%.

Sem munição para estímulos à economia

A crise econômica atual é, também, menos brutal que a de 2009. O PIB da zona do euro deve recuar 0,4% em 2012, ainda segundo o Eurostat, contra uma queda de 4,4% em 2009. Mas o período de recuperação se mostra mais longo, dessa vez, já que os governos não têm mais folga orçamentária para dar estímulos à economia.

Uma recuperação na Europa, de fato, parece estar ainda distante. Países como Itália e Espanha encolhem há um ano, e a situação da Grécia já é considerada como depressão. O PIB italiano contraiu-se 0,2% (ante 0,7% de queda no trimestre passado), informou o país; o espanhol, pelo segundo trimestre seguido perdeu 0,3%. Nessa semana, também Grécia e Portugal informaram retrações de 7,2% e 3,4% em suas economias, respectivamente.

No conjunto da União Europeia (UE), o PIB cresceu 0,1% recuperando os resultados negativos do segundo trimestre (-0,2%). A Holanda sofreu deterioração superior às previsões (-1,1%), e a Áustria contraiu-se 0,1%. Já as repúblicas bálticas foram os únicos países a registrar avanços acima de 1% (Estônia e Letônia cresceram 1,7%, e Lituânia, 1,3%).

Bolsas europeias fecham em queda

Com os dados negativos, as bolsas europeias fecharam em queda ontem. Londres teve variação negativa de 0,77%, Frankfurt caiu 0,82%; Paris perdeu 0,52%; Milão teve baixa de 0,59%; Madri subiu 0,29%; e Lisboa, 0,68%. Nos Estados Unidos, S&P recuou 0,16%; Nasdaq, 0,35%; e Dow Jones, 0,23%.

- Este foi o último bom número da Alemanha para o momento - afirmou o economista-chefe do Commerzbank, Joerg Kraemer. - O clima de negócios afundou.

Economistas esperam que a Alemanha registre contração no quarto trimestre, pela primeira vez desde o final de 2011. A França deve seguir o mesmo caminho. Mas, num momento de crescente pressão sobre Paris, quando muitos analistas e a própria Alemanha parecem duvidar da capacidade reformista do presidente François Hollande, o pequeno avanço do PIB francês desmentiu as estimativas do Banco da França (o banco central do país), que previu estagnação de julho a setembro, destacou o "El País".

Para o quarto trimestre, não há grandes esperanças de recuperação. A economia da zona do euro, segundo previsões apresentadas na semana passada pela Comissão Europeia, não voltará a crescer até o último trimestre de 2013, e a Espanha será o último país a deixar a recessão. A Comissão Europeia vê crescimento de apenas 0,1% no ano que vem. As altas taxas de desemprego nos países, associadas à alta de impostos na França e à desaceleração das exportações alemãs, podem criar uma mistura explosiva nos próximos meses.

Ontem, o Eurostat também informou que a inflação na zona do euro subiu 2,5% no espaço de 12 meses encerrado em outubro e avançou 0,2% na comparação mensal. Os números vieram em linha com o esperado pelo mercado, segundo a agência de notícias "Reuters".

Apesar de a zona do euro só ter mergulhado na recessão, oficialmente, no trimestre passado, os custos da crise para a população são imensos. Na Grécia, a taxa de desemprego já supera 25%, assim como na Espanha, onde o número é o maior desde o fim da ditadura de Franco, em meados da década de 70 (25,8%). No conjunto de países da zona do euro, a taxa de desemprego está em 11,6%.

"Recessão causada por nós mesmos"

Na quarta-feira, milhões de trabalhadores fizeram manifestações em diversos países da Europa para protestar contra cortes de gastos governamentais, que, afirmam, está aprofundando a contração da região. Já a Alemanha e a Comissão Europeia dizem que as medidas são cruciais para sarar as feridas do bloco. Ontem, cidades de Portugal e Espanha, onde houve greves gerais, tiveram de reparar os danos que os protestos do dia anterior causaram. Nesses países, assim como na Grécia, ainda houve protestos ontem, porém menor proporção.

- Estamos entrando numa nova recessão que é inteiramente causada por nós mesmos - disse o economista Paul De Grauwe, da London School of Economics. - É resultado de um excesso de medidas de austeridade em países do Sul (da Europa) e a falta de disposição do Norte para fazer qualquer outra coisa.

Segundo reportagem publicada no jornal "The Wall Street Journal", no entanto, a recessão europeia não é tão ruim quanto parece. Os últimos dados de Alemanha, França, Espanha e Itália combinados, países que respondem por três quartos da economia do bloco de moeda única, demonstrariam estabilidade. Apesar das previsões duras para o quarto trimestre, a publicação defende que as estimativas têm se mostrado piores que a realidade no continente.

O ministro de Finanças Alemão, Wolfgang Schäuble, voltou a pedir ontem urgência para a solução da crise da dívida grega, um dos países do bloco em maior dificuldade. Ele deu um ultimato de cinco dias para que o Eurogrupo - que reúne os ministros de Finanças da zona do euro e se reunirá em 20 de novembro -, chegue a uma decisão.