Título: Desemprego cai, mas mercado de trabalho esfria
Autor: Almeida, Cássia
Fonte: O Globo, 23/11/2012, Economia, p. 41

Taxa ficou em 5,3% em outubro, mesmo patamar desde julho. Em quatro de seis regiões, desocupação aumentou. Com a menor taxa de desemprego para o mês de outubro desde 2002, o mercado de trabalho começa a refletir o ritmo lento da economia, que deve crescer menos de 2% este ano. A taxa de 5,3% é ligeiramente menor que os 5,4% de setembro e se mantém nesse patamar desde julho. Recuo pequeno para uma época do ano em que as vagas temporárias começam a reduzir com mais força o desemprego. Outro sinal é a alta na taxa de desemprego em quatro das seis regiões acompanhadas pelo IBGE. Mesmo com os indícios, os números da Pesquisa Mensal de Emprego, apresentados ontem pelo IBGE ainda são alentadores e, surpreendentemente positivos, na opinião de analistas. Desde 2010, o mercado vem melhorando consistentemente.

- O mercado de trabalho de trabalho está menos favorável que no ano passado. Continua melhorando, mas num ritmo mais lento que nos anos anteriores. O crescimento do emprego com carteira assinada, por exemplo, que já chegou a 7% ao ano, está avançando agora a 3,2% - afirmou Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE.

O rendimento ainda mostra um mercado aquecido. Houve alta de 0,3% no salário médio descontando a inflação, chegando a R$ 1.787,70 em outubro. Frente ao mesmo mês do ano passado, o avanço foi de 4,6%. Para o economista João Saboia, professor da UFRJ, o mercado tem se saído bem diante do fraco crescimento e da crise internacional:

- Está surpreendentemente bom. Mas o movimento sazonal de queda do desemprego no segundo semestre ocorreu com pouca intensidade.

Na indústria, estagnação desde 2011

A ligeira queda de 5,4% para 5,3% poderia ter sido maior, segundo o IBGE, se o desemprego não tivesse subido forte em Recife, passando de 5,7% para 6,7%. Azeredo afirmou que ainda não é possível saber o que aconteceu na região metropolitana nordestina. Em Recife, a indústria e o comércio foram os setores que demitiram juntos 24 mil pessoas, de um mês para o outro. São Paulo foi a região que compensou esse crescimento do desemprego em Recife, com avanço forte da ocupação. Na região metropolitana paulista, a taxa de desemprego caiu de 6,5% para 5,9%, com mais 133 mil pessoas empregadas.

- Esse aumento (na taxa) não era esperado, já que nessa época do ano começam as contratações temporárias para o Natal. Temos que esperar mais meses, para entender melhor o que aconteceu em Recife. Já São Paulo, que responde por 40% do emprego metropolitano, segurou a taxa.

Para o professor do Departamento de Economia da Universidade Federal de Pernambuco, Luiz Honorato, a alta do desemprego é uma acomodação de uma região com a economia muito aquecida nos últimos tempos:

- Se continuar subindo nos próximos meses, aí sim será preocupante.

"pouca mão de obra disponível"

Os números bons que o mercado de trabalho vem apresentando nos últimos anos também pode explicar esse recuo menor que o esperado na taxa de desemprego. Com mais chance de encontrar emprego, mais pessoas, principalmente os que não são responsáveis pela casa, começam a procurar trabalho, atrás dos postos temporários abertos para o Natal. Assim, a taxa de desemprego, que mostra a parcela da força de trabalho que procura ocupação, sobe ou baixa mais devagar. Segundo Renato da Fonseca, gerente de Pesquisas da Confederação Nacional da Indústria (CNI), levantamento da entidade indica que nas famílias o medo do desemprego é muito pequeno:

- E o emprego na indústria deve reagir no fim do primeiro trimestre. Desde fim de 2011, ele permanece estagnado.

O economista Carlos Henrique Corseuil, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), concorda com Saboia de que o desemprego não vem caindo com a força esperada para essa época do ano, constatando que os números de 2012 estão se aproximando dos de 2011. Em outubro do ano passado, a taxa de desocupação foi de 5,8%:

- Mas a taxa deve continuar caindo.

Isso é que também espera Rafael Bacciotti, economista da Consultoria Tendências. A taxa deve cair para 4,5% em dezembro, inferior aos 4,7% registrados no mesmo mês do ano passado:

- Vivemos um cenário de pouca mão de obra disponível.

A taxa média de desemprego do ano deve ficar em 5,6% em 2012, na previsão da consultoria. Segundo Azeredo, do IBGE, a taxa média de desocupação até outubro ficou em 5,7%, menor que os 6,2% registrados no mesmo período de 2011. O rendimento médio real na média anual está em R$ 1.770,02, alta de 4,1% frente ao mesmo período do ano passado.

A resposta para esse desempenho bom do mercado de trabalho está no setor terciário, na opinião de Saboia. É um segmento com produtividade baixa e qualquer aumento na produção de serviços acaba absorvendo mais mão de obra. Assim, a taxa de desemprego em Belo Horizonte e Porto Alegre, ficou abaixo de 4% em outubro. Em ambas, a taxa ficou em 3,9%. Em Porto Alegre houve até pequena subida: em setembro fora de 3,6%. No Rio, a taxa ficou em 4,6%, acima dos 4,4% de setembro.

Em Brasília, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, considerou que a redução no desemprego no Brasil contribuirá para a sustentação da demanda doméstica no país.

- A economia continua gerando empregos formais, na faixa de 1,3 milhão desde o início do ano. A renda real do trabalhador continua em ascensão, logo a massa salarial também (se) expande - disse, durante audiência pública na Câmara dos Deputados.