Título: Valdemar confirma amizade com alvo da operação da PF
Autor: Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 27/11/2012, País, p. 7

De acordo com assessoria, parlamentar foi surpreendido pelo caso.

Condenado pelo escândalo do mensalão e citado nas investigações da Operação Porto Seguro, da Polícia Federal, o deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP) evitou entrevistas e ficou recluso em um gabinete no Congresso, mas confirmou ontem, por meio de sua assessoria, que é amigo "há muito anos" de Paulo Viera, o diretor afastado da Agência Nacional de Águas (ANA) que foi preso pela PF sob a suspeita de comandar um esquema de venda de pareceres de órgãos federais. Disse que foi surpreendido pelas denúncias envolvendo Vieira. Ainda de acordo com a assessoria, ele dedicou a tarde de ontem para acompanhar pela televisão, "com serenidade e tranquilidade", a sessão do Supremo Tribunal Federal (STF) na qual foi fixada sua sentença no processo do mensalão.

Valdemar evitou aparecer em público e não atendeu aos pedidos de entrevista. Os documentos da Operação Porto Seguro da PF, obtidos pelo GLOBO e publicados ontem, revelam que Valdemar tinha estreitas ligações com Vieira, apontado como o chefe da quadrilha presa na sexta-feira sob acusação de montar um esquema de corrupção em agências reguladoras e órgãos federais.

A Polícia Federal identificou 1.179 ligações telefônicas feitas a partir do restaurante japonês de Paulo Vieira para o deputado Valdemar e outros integrantes de seu partido, o PR. Mas a avaliação feita ontem por seus aliados e assessores era que as conversas gravadas pela PF não teriam mostrado nada grave, nada que comprometesse o deputado no esquema.

A assessoria do deputado diz ainda que a proximidade entre os dois teve início no trabalho político-eleitoral na cidade de Cruzeiro, no interior de São Paulo, onde Vieira é dono de uma faculdade. Quando Paulo Vieira foi nomeado para a ANA, por indicação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a amizade entre os dois se intensificou.

senador do PR auxiliou indicação

Em um dos telefonemas, de 28 de maio deste ano, Paulo Vieira pede ao deputado a indicação de um vereador de Santos, cidade do litoral paulista, para a assinatura de uma representação junto ao Tribunal de Contas da União (TCU).

A relação de Paulo Vieira com Valdemar se estendia também ao PR como um todo, e a outros partidos governistas. A aprovação do nome de Paulo Vieira para a ANA provocou polêmica no Senado, em 2009, tendo sido rejeitada em duas votações. O Palácio do Planalto não aceitou a decisão, e acionou o então líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR).

Por orientação de Jucá, o senador capixaba Magno Malta, do mesmo PR de Valdemar, recorreu à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a fim de que as votações da rejeição fossem anuladas. Em 2010, mesmo com parecer contra da CCJ, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP) pôs a indicação novamente em votação e, desta vez, ele teve o nome aprovado.