Título: Lula e Dilma na estrada
Autor: Torres, Izabelle
Fonte: Correio Braziliense, 13/10/2009, Política, p. 7

Na tentativa de amarrar alianças regionais, presidente e candidata petista rumam para Bahia, Minas e Pernambuco

Dilma na Bahia na última sexta-feira: de volta ao estado

Sob o pretexto de visitar canteiros de obras da transposição do rio São Francisco, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai colocar o pé na estrada. Mas a missão não declarada é resolver os imbróglios das alianças para 2010 em três dos estados considerados imprescindíveis para a eleição presidencial de 2010, mas cuja realidade política ainda é um problema para os planos do presidente de emplacar a ministra Dilma Rousseff como sucessora.

Acompanhado da ministra, Lula inicia sua andança amanhã pelo estado da Bahia. Eles visitarão o município da Barra, no Oeste do estado. A agenda oficial prevê passeios às obras de revitalização. Mas, é na agenda extra oficial que ambos irão concentrar esforços. É que a Bahia vive um confronto entre PT e PMDB, considerado um obstáculo à aliança nacional dos dois partidos. O PT estadual quer reeleger o governador Jacques Wagner e já anunciou que não abrirá mão dessa candidatura. Enquanto isso, os peemedebistas já anunciaram que pretendem lançar o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, para concorrer à vaga.

A missão da dupla Lula-Dilma será oferecer um plano alternativo à candidatura de Geddel. Deputados do PMDB acreditam que o ministro aceitaria, por exemplo, a indicação para uma vaga no Senado, desde que sua eleição tenha amparo suprapartidário a ponto de garantir a vitória. O problema é que o PT baiano anunciou a intenção de lançar o presidente da Petrobras, Sergio Gabrielli, para o cargo de senador. A esperança dos que ainda apostam na aliança entre PT e PMDB é que Lula consiga intervir nas articulações estaduais com um jogo de cintura suficiente para não desagradar ninguém.

Depois da Bahia, o presidente e sua candidata à sucessão irão percorrer as obras da transposição em Minas Gerais. Durante as visitas aos municípios de Pirapora e Buritizeiro, no norte do estado, eles pretendem manter conversas sobre as divergências entre petistas e peemedebistas. No segundo maior colégio eleitoral do país, a ameaça do PMDB de lançar o ministro das Comunicações, Hélio Costa, ao governo atrapalha a aliança com o PT, que pretende decidir se lança ao Palácio da Liberdade o ex-prefeito Fernando Pimentel ou o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias. Lula já iniciou as conversas com os mineiros, mas um acordo ainda parece um objetivo distante.

Dificuldades O presidente Lula e sua caravana reservaram dois dias para as visitas a Pernambuco esta semana. Devem ir às cidades de Sertânia e Salgueiro também para averiguar o andamento das obras de revitalização do Rio São Francisco. Mas os trabalhos de bastidor do grupo no estado serão ainda mais penosos. O apoio antes tido como certo do governador Eduardo Campos (PSB) à candidatura da ministra Dilma começou a caminhar na corda bamba depois que o deputado Ciro Gomes (PSB) anunciou que pretende mesmo disputar a presidência da República. Campos é presidente da legenda e tem se animado com as recentes pesquisas em que Ciro aparece numericamente melhor do que a ministra.

Ao presidente Lula, o aliado Campos tem dito que a solução alternativa seria manter as duas candidaturas em primeiro turno, garantindo a aliança para um eventual segundo turno. Candidato à reeleição para o governo, ele afirmou a parlamentares petistas do estado que conseguiria transitar bem em ambos os palanques. Mas não é isso que o presidente quer. Nas conversas durante as visitas desta quinta e sexta-feira, Lula deve pedir a Campos que trabalhe para que Ciro seja candidato ao governo de São Paulo e deixe o caminho livre para Dilma.

Petistas pernambucanos, no entanto, acreditam que nem mesmo essa visita surtirá efeitos, já que a decisão somente sairá em abril. Até lá, o presidente terá de agendar muita visita e conversas com as cúpulas partidárias para minar os planos e os obstáculos à candidatura de Dilma, que já deu sinais de que não vê problemas em possuir palanques duplos nos estados. Missão difícil será convencer os candidatos a governadores de que dar apoio sem receber exclusividade é um bom negócio.

Controvérsia A transposição do rio São Francisco é uma discussão antiga no governo federal e teve início em 1985. Durante o governo Fernando Henrique Cardoso ganhou força e visibilidade. Também começou a despertar polêmicas. O projeto de transposição do rio São Francisco consiste na transferência de águas para abastecer pequenos rios e açudes da região Nordeste que possuem um déficit hídrico durante o período de estiagem. O problema é que especialistas divergem sobre os impactos dessa transposição. Os que são contrários afirmam que a obra ¿ já orçada em R$ 5 bilhões ¿ vai deteriorar ainda mais o rio e atender a apenas 0,3% da população que das regiões.

Prefeitos Para tentar ganhar mais espaço e visibilidade política, Dilma se reúne nos próximos dias 6 e 7 com cerca de 500 prefeitos petistas. O presidente da Frente Nacional de Prefeitos, João Coser (PT-ES), mobilizou um grupo de administradores municipais para articular a candidatura da ministra aproximando-a das bases partidárias e dos movimentos sociais. A ideia é que a ofensiva dos prefeitos em favor da candidatura da ministra seja conduzida por sete coordenadores: um em cada uma das cinco regiões e mais dois para organizar a mobilização nos dois estados em que a oposição é mais forte ¿ São Paulo, de José Serra, e Minas, de Aécio Neves, ambos presidenciáveis pelo PSDB.