Título: Minc lembra que foi contra indicação de Vieira para ANA
Autor: Farah, Tatiana; Ribeiro, Marcelle
Fonte: O Globo, 26/11/2012, País, p. 3

Diante da prisão de Paulo Vieira, opositores de sua nomeação para o cargo de diretor de Hidrologia da Agência Nacional de Águas (ANA) lembraram da nada ortodoxa aprovação, pelo Senado, de sua indicação, feita pelo então presidente Lula. Seu nome foi rejeitado pelos senadores em dezembro de 2009, mas, por pressão do Palácio do Planalto, a votação foi refeita em abril de 2010, passando por cima do regimento da Casa e de parecer contrário da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Na época, Vieira já causava reações negativas.

- Quando surgiu o nome de Paulo Vieira, eu nunca tinha ouvido falar nele. Os funcionários da ANA resistiam porque ele não entendia do setor e já havia informações de que ele não era flor que se cheire, que navegava em águas turvas - disse o então ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc.

Os funcionários da agência se mobilizaram para tentar derrubar a indicação de Vieira e chegaram a enviar um e-mail para os senadores, com argumentos contrários à sua aprovação. Os servidores e Minc apoiavam o nome da técnica Gisela Forattini, derrubado pelo Planalto.

No intervalo entre sua rejeição pelo Senado e a nova votação, o ex-ministro José Dirceu e a chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo, Rosemary Noronha, agora indiciada pela PF, tentaram emplacá-lo na diretoria da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), onde era ouvidor. Participantes da operação para aprovar o nome de Vieira a qualquer custo reagem, em um primeiro momento, da mesma forma: dizem não se lembrar de nada. O relator da indicação de Vieira para a ANA foi o então senador João Pedro (PT-AM), que elaborou parecer favorável. Ontem sua primeira reação foi dizer que não lembrava desse fato.

- Eu???

Confrontado com o parecer, ele se lembrou:

- Ele veio como nome do Palácio.

A operação para refazer a votação foi posta em prática pelo então líder do governo, senador Romero Jucá (PMDB-RR), e pelo presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). A assessoria de Sarney negou ontem que tenha havido manobra:

- O presidente Sarney colocou em votação e ponderou que tinha uma decisão (da CCJ) que não era clara. O plenário é soberano. Ele submeteu ao plenário, não fez manobra - disse Fernando César Mesquita, assessor de Sarney.