Título: Com alta repentina do dólar, mais cuidado pra quem vai viajar
Autor: Sorima Neto, João
Fonte: O Globo, 26/11/2012, Economia, p. 26

Na contagem regressiva para as férias de dezembro e janeiro, muitos brasileiros que estão de malas prontas tomaram um susto. O dólar comercial subiu a um novo patamar neste mês e, na última sexta-feira, a cotação chegou a R$ 2,11 na máxima do dia, encerrando a sessão a R$ 2,082. O que deixou muita gente preocupada foi a velocidade de alta em novembro. A moeda americana começou o mês valendo R$ 2,03 - cotação média que vinha sendo mantida desde meados de junho - e já subiu 3,10%. O dólar turismo, usado por quem vai viajar, seguiu o movimento: começou o mês em R$ 2,16 e atingiu pico de R$ 2,23 no último dia 22. A pergunta que se faz neste momento é se o dólar vai continuar subindo ou se vai voltar aos R$ 2,03.

- Os movimentos de alta do dólar são sempre rápidos. Mas, depois de atingir o pico, a cotação tende a se estabilizar e até recuar. Para quem vai viajar em janeiro, recomendo esperar um pouco. Há chance de recuo para algo como R$ 2,06 ou até R$ 2,05 - diz Maurício Barbosa, operador de câmbio da Máxima Corretora.

Para quem vai embarcar em dezembro, a estratégia é um pouco diferente.

- É melhor comprar um pouco agora e o restante mais perto da viagem. Com isso, o viajante se protege se o dólar subir mais um pouco nos próximos dias e se beneficia se ele recuar até a data da viagem - explica Felipe Pelegrini, gerente da mesa de operação do Banco Confidence.

menos iof no cartão pré-pago

Na prática, para o turista que pretende levar US$ 5 mil, o ideal é comprar US$ 2,5 mil agora e os outros 50% mais próximo da data de embarque. Em qualquer cenário, seja de alta ou de baixa do dólar, o melhor é que o turista compre a divisa sempre aos poucos, dizem os especialistas. Isso vale a partir do momento em que a data de embarque foi decidida. Pode ser com seis meses, um ou dois anos de antecedência. A compra pode ser feita a cada 30 dias ou a cada duas semanas, não importa. O essencial é não deixar de se capitalizar em moeda estrangeira. Essa estratégia ajuda a diluir os riscos de uma alta repentina, como aconteceu na semana passada.

- Comprar aos poucos até a data da viagem é o ideal porque ajuda a diluir o risco de uma alta inesperada. E isso independe do cenário econômico. Aconselho as pessoas a fazerem um cartão pré-pago e irem carregando aos poucos. É mais seguro contra perda ou roubo do dinheiro em espécie e o Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF) é de 0,38% contra os 6,38% do cartão de crédito. Para as despesas do dia a dia, como o táxi ou o lanche, é bom ter no bolso entre US$ 200 ou US$ 300 em espécie - diz Pellegrini.

A família de Humberto Cardoso, de São Paulo, seguiu essas recomendações. Vai visitar Orlando, na Flórida, entre os dias 11 e 27 de janeiro. As quatro passagens - dele, da mulher Andréia, e dos filhos Pedro e Lucas - foram compradas já em março deste ano ao câmbio de R$ 1,66. Como vão viajar com mais seis pessoas da família, entre sobrinhos, irmão e cunhada - decidiram alugar uma casa. O aluguel foi fechado em setembro a um câmbio de R$ 1,78. Para as despesas da família, Humberto e Andréia vão levar o cartão pré-pago. E só usarão o cartão de crédito em caso extremo, fugindo do IOF mais elevado.

- Vamos esperar e carregar o cartão pré-pago mais perto da viagem, para ver se a cotação recua - diz Andréia.

Se serve para consolar quem não fechou o pacote de viagem antes da escalada do dólar, Edmar Pull, vice-presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav), afirma que este ano a procura pelas viagens aos EUA, em janeiro, está menor do que no ano passado. Isso pode resultar em preços até 20% mais baixos, se o viajante fizer uma boa pesquisa, diz ele. Quatro grandes agências ouvidas pelo GLOBO confirmaram que a procura está mesmo menor este ano por causa do dólar mais alto. E ainda restam lugares. Os pacotes de sete dias em Nova York, com hotel, traslado e passagem área para duas pessoas ficam entre US$ 5.109,00 e US$ 6.056,00. É uma diferença de 16,7%. Mas a cotação usada pelas agências, a do dólar turismo, é diferente e varia entre R$ 2,18 e R$ 2,20. Por isso, é bom atentar a esses detalhes na hora de fechar a compra.

sem intervenção do governo

A alta do dólar, desta vez, pode ser atribuída a dois fatores. O primeiro é o cenário internacional conturbado. Com a Europa vivendo uma crise que se complica a cada dia, as dúvidas sobre o crescimento da economia americana e o recrudescimento do conflito no Oriente Médio, os investidores saem das Bolsas de Valores e migram para ativos menos arriscados como o dólar. O outro fator que impulsiona o dólar é o próprio governo brasileiro. Nos últimos meses, sempre que a moeda encostava em R$ 2,10 o governo vendia dólares e a cotação baixava. Desde o início de novembro, entretanto, o governo não se mexeu para brecar a alta. Só na sexta-feira passada, houve intervenção, mas porque o dólar bateu em R$ 2,11. Mas o ministro Guido Mantega avisou que o dólar acima de R$ 2 veio para ficar.

- Agora, ganha força a aposta de que o governo está interessado em uma taxa mais próxima de R$ 2,10 para beneficiar a indústria exportadora e elevar a competitividade da economia nacional - diz Sidnei Nehme, sócio da corretora de câmbio NGO.

O sócio da corretora de câmbio Pionner, João Medeiros, prevê que a cotação do dólar ficará entre R$ 2,08 e R$ 2,10.

- Só em fevereiro, quando começam a entrar os dólares das exportações agrícolas, é que poderá haver um refresco. E mesmo assim, se o governo não intervier no mercado - afirma Medeiros.