Título: Ministro só foi avisado da operação horas antes
Autor: Brígido, Carolina ; Gama, Júnia
Fonte: O Globo, 04/12/2012, País, p. 5

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, só soube que a Polícia Federal faria a Operação Porto Seguro por volta de 20h de 22 de novembro, véspera do início da ação. O diretor da PF, Leandro Daiello, telefonou para o ministro e avisou que haveria a operação no dia seguinte. Disse que as buscas atingiriam órgãos federais em Brasília e em outras unidades da federação. O ministro, que estava a caminho do aeroporto para ir a Fortaleza, deu meia volta e foi ao Palácio do Planalto avisar à presidente Dilma da operação.

Na madrugada do dia 23, quando os agentes da PF já estavam nas ruas para cumprir os mandados judiciais, Daiello telefonou novamente para Cardozo, que já estava no Ceará, e revelou os nomes das pessoas sob investigação e os endereços onde os agentes fariam as buscas. Entre 9h e 10h da manhã do dia 23, já de volta a Brasília, o ministro fez um relato detalhado da operação para Dilma.

Para Cardozo, a PF o avisou no tempo certo. Caso tivesse avisado antes, poderia comprometer o sigilo da operação.

Hoje, às 10h, Cardozo irá ao Congresso Nacional para prestar esclarecimentos às comissões de Fiscalização e Controle e de Segurança. O ministro defenderá a lisura da atuação da Polícia Federal no caso, inclusive nas buscas realizadas no escritório da Presidência da República, em São Paulo, e na sede da Advocacia Geral da União (AGU), em Brasília.

O ministro também deverá enfatizar a reação do governo ao escândalo. No dia seguinte à operação, Dilma determinou o afastamento de todos os servidores públicos indiciados pela PF e a abertura de investigações internas em cada órgão sobre as irregularidades que deram base à operação policial. Os 13 servidores investigados já foram afastados.

A operação resultou no indiciamento de 19 pessoas, entre elas a ex-chefe de gabinete da Presidência em São Paulo Rosemary Nóvoa de Noronha. Para Cardozo, são equivocadas as versões de que policiais federais de São Paulo tenham agido à revelia da direção da instituição em Brasília por indisciplina, vingança ou por motivos políticos. O ministro entende que a PF agiu dentro dos padrões das demais operações, até mesmo na forma de avisá-lo sobre as investigações.

O ministro vai à audiência acompanhado do diretor da PF e do superintendente da instituição em São Paulo, Roberto Troncon. Ontem, Cardozo se reuniu com os dois para se inteirar sobre detalhes da ação policial. A presença de Troncon é uma forma de demonstrar que não há choque entre superintendência e direção-geral da PF.