Título: A degradante fila por uma consulta no Into
Autor: Leite, Renata
Fonte: O Globo, 04/12/2012, Rio, p. 21

Mail de mil pacientes, muitos de muletas e em cadeiras de rodas, disputaram senha para 400 vagas

Sozinha na fila de espera para atendimento no Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into), Maridete Tenório de Cerqueira, de 73 anos, olhava apreensiva para a multidão. As lágrimas escorriam pelo rosto da idosa, que aguardava desde as 4h30m de ontem, em pé na calçada da Avenida Brasil, por uma chance de marcar uma consulta na instituição. Às 10h, ela não sabia se conseguiria uma senha. Como ela, mais de mil pessoas - muitas delas usando cadeira de rodas ou apoiadas em muletas - amanheceram na fila que contornava o quarteirão do Into, na esperança de conseguir uma das 400 vagas para marcação de consultas para o primeiro semestre de 2013. Os primeiros pacientes chegaram à porta do hospital às 9h de domingo.

- Estou há um ano e meio sem conseguir marcar essa consulta, com artrose em fase aguda. Tomo remédios para pressão que me deixam com vontade de ir ao banheiro, mas nem para isso nos deixam entrar no hospital - disse Maridete.

Paciente à espera de vaga desde 2010

A poucos metros dali, Natalina das Graças Braga, de 57 anos, também se queixava do atendimento. Ela, que sofre de artrose e tem que colocar próteses no joelho, chegou à porta do Into às 5h para mais uma tentativa de consulta no hospital. Pelo menos, duas pessoas na fila passaram mal durante a espera.

- Fiz a triagem em 2010. Me deram a muleta e disseram que só teria vaga para consulta em 2012. Desde então tento marcá-la. O ano acabou. Se tiver sorte, consigo uma vaga para 2013. Se eu não conseguir, vou na ouvidoria. Isso é um absurdo. Moro em Teresópolis e tenho que descer a Serra para estar aqui - reclamou Natalina.

O Into afirmou que foi pego de surpresa com a grande procura e que distribuiu ontem mil senhas (600 a mais do que estava previsto). A direção anunciou que, a partir de agora, as marcações acontecem exclusivamente por telefone (2134-5145). O planejamento inicial era disponibilizar 400 vagas por dia nesta semana, totalizando 2 mil marcações de consultas até sexta-feira para quem fosse pessoalmente ao local.

O início do atendimento estava previsto para as 7h, mas até 7h20m não havia funcionários do Into do lado de fora para organizar a espera. Depois da chegada da polícia, seguranças do instituto se posicionaram na entrada, onde houve um princípio de tumulto. Vinte minutos após o início do atendimento, a distribuição das senhas terminou, gerando nova revolta entre os pacientes. Uma nova fila começou a ser formada em seguida, com pacientes dispostos a passar a noite no local. Ao serem informados que a marcação seria por telefone, muitos se desesperaram, como Lucineide de Souza:.

- Já tentei marcar por telefone e é impossível. Ninguém atende. Estou aqui desde as 4h. Isso é muita humilhação.

Naasson Cavanellas, diretor de unidade hospitalar do Into, pediu desculpas pelo transtorno e afirmou que a demanda de pacientes foi muito maior do que a esperada. Ele reconheceu que o call center do instituto não tem capacidade de atender a todos, mas afirmou que todos os esforços serão concentrados nesta área agora:

- Não esperávamos essa confusão. O modelo existe há muito tempo e sempre funcionou bem. Há seis meses, abrimos a marcação de consulta para o segundo semestre deste ano e tudo transcorreu sem problemas. Isso não vai se repetir - garantiu.

Ontem à noite, 30 pessoas voltaram para a porta do Into, reclamando que não conseguiram marcar por telefone suas consultas.

Into opera abaixo da sua capacidade

Segundo Cavanellas, o Into tem capacidade para realizar até 3.500 consultas por ano, mas atualmente oferece 1.800. Cerca de 100 médicos foram contratados, e estão em treinamento..

Em nota, a Secretaria estadual de Saúde informou que ofereceu ao Ministério de Saúde ajuda para implementar um agendamento de consultas no Into semelhante ao do Rio Imagem, onde o sistema é online. Uma reunião será feita hoje em Brasília para discutir a adoção do modelo.