Título: Juízes e advogados negam esquema em varas empresariais do Rio
Autor: Otavio, Chico; Thedim, Liane
Fonte: O Globo, 25/11/2012, País, p. 7A

Os três advogados e os magistrados negam qualquer envolvimento no esquema de favorecimento de amigos e parentes nas nomeações como administradores judiciais das massas falidas mais lucrativas do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ). Fabrício Dazzi diz que sua primeira nomeação, para a Forja Rio Ltda, aconteceu em abril de 2009, durante a licença-maternidade de sua mulher, a juíza Natascha Maculan Adum Dazzi.

- Qualquer ilação em relação à eventual influência de minha esposa para minha nomeação enquanto administrador judicial é infundada e descabida, já que ela não só não atuava em varas empresariais, como estava em licença-maternidade - afirma Dazzi. - Sou nomeado em massas falidas em que nem haverá pagamento, apenas com interesse de ter mais experiência e ganhar mais expertise .

A juíza Natascha Dazzi, da Região Judiciária Especial e, atualmente, em exercício na Vara de Execuções Penais e na 3ª Vara Empresarial, enviou nota, pela assessoria de imprensa do TJ-RJ, afirmando que nunca atuou nos processos em que seu marido tenha sido designado administrador judicial. A magistrada diz ainda que "não existe impedimento legal ou ético de que seu cônjuge exerça a função de administrador judicial de massas falidas por designação de outros juízes". Ela afirma que a primeira vez em que esteve lotada em uma vara empresarial foi em julho de 2009. "Antes disso, a juíza atuou em varas criminais e esteve por aproximadamente nove meses de licença-médica/maternidade", continua a nota do TJ.

Já a juíza Maria da Penha Nobre Mauro, da 5ª Vara Empresarial do Rio, afirma, em nota enviada pela assessoria de imprensa do TJ-RJ, que não considerou o fato de Dazzi ser marido de uma juíza de vara empresarial ao nomeá-lo para a corretora Open S/A, "inclusive porque, até aquele momento, sequer era conhecida". Ela diz que Natascha "nunca lhe pediu a nomeação e tampouco mantém com esta magistrada relações pessoais".

Segundo a juíza, Dazzi foi escolhido por sua atuação profissional. "Competente, conheci em outras varas, onde estive por designação", afirma. Ela afirma, porém, que identificou "ausência de prestação de contas" no processo de administração da massa falida da corretora. "O administrador é obrigado a apresentá-la periodicamente, já tendo esta juíza, a partir das informações fornecidas pelo Cartório desta 5ª Vara Empresarial, determinado as providências cabíveis".

Jaime Nader Canha diz que adotou a área como de seu interesse após a experiência como perito judicial na área de informática, no TJ-RJ. Depois de vender sua empresa, a Expert Informática, em 2007, ele afirma que distribuiu currículos em todas as varas empresariais.

- Deixei portfólio em várias varas e, desde então, fui construindo uma reputação na área. Fico agradecido por ser lembrado a cada vez que sou nomeado. O dinheiro que me remunera é da massa falida, e não do TJ - diz ele.

currículos de vara em vara

Luiz Roberto Ayoub, da 1ª Vara Empresarial, por sua vez, diz que não tem parentesco com Jaime Nader Canha, a quem diz considerar confiável:

- Quando ocorre uma recuperação com ativos, sempre nomeio um administrador judicial. Faço um rodízio e respeito a fila. Tenho uma lista. São pessoas sérias, em quem confio. Quando é caso de falência, prefiro nomear um liquidante. Não sou primo e nem faço qualquer tipo de gestão Jaime Nader Canha, que considero pessoa confiável.

Wagner Madruga do Nascimento nega que o pai, Ferdinaldo do Nascimento, desembargador da 19ª Câmara Cível, tenha pressionado juízes da primeira instância para designá-lo administrador judicial de massas falidas lucrativas. Ele garante que vai de vara em vara entregando currículos.

O desembargador diz que nunca julgou um caso defendido pelo escritório do filho:

- Comuniquei, inclusive, à Corregedoria que existe esse impedimento, o que evita a distribuição dos casos dele para a minha câmara.

Nascimento, que comprou pela metade do preço uma cobertura da Bloch Editores quando o filho trabalhava no escritório que administrava a massa falida, diz que Wagner ainda não era formado na época (entre 2003 e 2004).

- Quando arrematei o apartamento da massa da Bloch, meu filho era estagiário e estagiário não manda nada. Foi um colega meu que indicou. Outro colega também participou do leilão, no qual seis apartamentos foram vendidos. Estavam abandonados, cheios de dívidas. Foi tranquilo.